O investimento que os deputados estaduais de Mato Grosso têm feito na divulgação de sua imagem é digno de produções cinematográficas transmitidas por serviços de streaming internacionais.
Só em serviços e equipamentos, a TV e a Rádio da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) consumiram R$ 39 milhões ao longo de quatro anos – sem incluir as despesas com pessoal.
O valor corresponde a contratos assinados para os períodos de 2013 a 2015 e de 2017 a setembro 2019 com diferentes empresas, tanto de Mato Grosso quanto de outros Estados.
E os números poderiam ser ainda maiores, não fosse pelo fato de nos anos de 2011, 2012 e 2016, as duas emissoras não terem recebido investimentos diretos, segundo dados do portal da ALMT.
Para efeito de comparação, o orçamento do filme brasileiro “Bacurau” – que conta a história de uma comunidade que se une contra um político corrupto que compra votos para tentar se reeleger – foi de R$ 7,7 milhões.
Por um quinto do valor gasto pela ALMT, o diretor Kleber Mendonça Filho, pelo menos, conquistou um prêmio: o Festival de Cannes deste ano.
Dois carros por R$ 5 milhões
Somente um dos contratos firmados neste ano – mais precisamente no dia 29 de maio – a Assembleia Legislativa gastou R$ 5 milhões.
Assinado pela então presidente em exercício, deputada Janaína Riva (MDB), e pelo primeiro-secretário Max Russi (PSB), o vínculo com a 4TC Tecnologia tinha como objetivo adaptar dois veículos para transformá-los em unidades móveis de produção.
Em outras palavras, permitir que fossem feitas transmissões ao vivo pela TV e pela Rádio das atividades externas dos deputados.
A última vez que os mato-grossense ouviram falar em transformação de veículos para uma finalidade específica foi no período de preparação para a Copa do Mundo de 2014.
Na época, a extinta Agência de Execução de Projetos da Copa (Agecopa) tentou comprar 10 Land Rovers adaptadas com equipamentos específicos para fazer a segurança da fronteira do Estado com a Bolívia.
O custo de cada unidade era de aproximadamente R$ 1,4 milhão. Os veículos acabaram não sendo comprados – e viraram indícios de um escândalo político por conta da suspeita de superfaturamento.
46 dias de presidência
Ao longo dos 46 dias em que ocupou a presidência da ALMT – no lugar do titular Eduardo Botelho (DEM) –, Janaina Riva usou a caneta para firmar contratos que somaram R$ 9,5 milhões.
O contribuinte mato-grossense bancou, por exemplo, R$ 3,4 milhões para que as imagens transmitidas pela TVAL fossem acompanhadas do sistema closed caption – aquele de legendas que podem ser acionadas ao gosto do freguês – tanto para os programas ao vivo, quanto para os previamente gravados.
É importante ressaltar que a Assembleia Legislativa de Mato Grosso não é a única do país a ter uma emissora de TV própria. Mas o Parlamento mato-grossense supera – e muito – os gastos de outros com atividade semelhante.
Desperdício 11 vezes maior
Desde março, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) – a maior do país – tem gastado R$ 250 mil por mês com fornecimento de equipamentos e manutenção para sua emissora de TV, segundo informou a Diretoria de Comunicação da Casa.
Isso significa dizer que, até o final do ano – se os números se mantiverem – a Alesp terá gastado R$ 2,5 milhões com sua TV. Cerca de R$ 26,5 mil para cada um de seus 94 deputados estaduais.
Já a ALMT tem uma despesa por deputado 11,6 vezes maior. São R$ 307,7 mil por ano, considerando-se como referência os valores totais dos três contratos de transmissão e manutenção assinados em 2019.
O que diz a ALMT?
A reportagem do Livre enviou os seguintes questionamentos à Secretaria de Comunicação da ALMT:1 – A Assembleia Legislativa assinou um contrato de R$ 5 milhões para transformar dois veículos possibilitar a transmissão ao vivo de sua programação. Que tipo de equipamento justifica um custo de aproximadamente R$ 2,5 milhões por veículo?2 – Só em 2019 a ALMT já assinou contratos que totalizam R$ 9,5 milhões em serviços voltados as emissoras de TV e Rádio do Parlamento. Que tipo de serviços são esses?3 – se considerados os valores de contratos compreendidos no período de 2013 a 2015 e de 2017 a setembro 2019, o valor gasto com a TV e Rádio AL soma R$ 39 milhões. Que tipo de serviços são esses?Não houve resposta para nenhum deles. Informações do portal O Livre.