Apesar dos veranistas, economia em balneário no Litoral Norte sofre com pouco movimento

O sol não brilhava forte como em dias típicos de verão, mas apesar dele se esconder entre as nuvens, o forte calor convidava a um banho de mar. Mas a areia badalada de Praia do Forte estava bem pouco movimentada nesse sábado (30). A maré alta e a obra de construção de um muro de contenção espantavam os banhistas da praia central, a mais próxima da rua principal da vila. Um pouco mais afastado dali, a praia do Lord tampouco tinha muita gente. Pequenos grupos se mantinham afastados e aproveitavam para tomar um pouco de sol, surfar ou simplesmente se refrescar na água. 

Proprietário de uma casa em Praia do Forte, o engenheiro Felipe Cunha, 42 anos, mora em Salvador e se deslocou para lá pela primeira vez durante a pandemia de coronavírus. “Nessa época aqui é sempre cheio. Agora a impressão que eu tenho é de que estou vindo na Praia do Forte de 30 anos atrás. Me senti muito seguro com relação à pandemia”, afirmou, ao deixar a areia na companhia da esposa e da filha. Todos usavam máscaras. As praias não estão interditadas, como acontece em Salvador.

O administrador Luciano Dantas, 48 anos, também tem casa em Praia do Forte e se refugia por lá quase todo final de semana. “Aqui a gente tem sossego, consegue andar, tomar um banho de mar, tirar os meninos de dentro do apartamento pra descontrair. Em Salvador, você não consegue ir a uma praia ou fazer uma caminhada. Aqui as praias estão vazias”, disse, durante caminhada na companhia de seis familiares. 

A presença dos veranistas, no entanto, não é suficiente para aquecer a economia local. O silêncio e os muitos estabelecimentos fechados na rua principal de Praia do Forte refletem o abalo provocado pela pandemia de covid-19 no ponto turístico. Poucas lojas se mantêm abertas, e alguns restaurantes estão funcionando para delivery. É o caso do Donana, que costumava ter fila de turistas ávidos para provar os quitutes baianos. 

“Nós estamos trabalhando com delivery às sextas, sábados e domingos para tentar suprir alguns custos, mas estamos reavaliando porque só em abrir a casa já estamos tendo custos que não estão compensando. O cenário é triste e assustador”, lamenta o gerente Marcelo Melo.

Estabelecimentos com mais de 200 metros quadrados estão fechados, com exceção dos serviços essenciais (Foto: Tiago Caldas/ CORREIO)

Dono de sete estabelecimentos comerciais em Praia do Forte, o surfista e empresário Alexandro Leal, 38 anos, também está preocupado. “Aqui você consegue viver a quarentena no paraíso, eu surfo todo dia, mas estamos sem poder trabalhar, pois não tem turistas. A situação está bem difícil”, pontua.   

Sem hóspedes
Gerente do hotel Eco Atlântico, Luciana Bitencourt relata que a queda de ocupação foi drástica. “No ano passado tínhamos nessa época 50% de ocupação. O hotel está vazio esse final de semana e vamos receber um casal. Pelas normas de segurança de Mata de São João, o hóspede tem que fazer as refeições no quarto e não pode usar as dependências. O banho de mar não está proibido, então ele tem acesso à praia, de máscara”, explicou. 

O casal que topou as restrições fez check-in enquanto a equipe do CORREIO estava no local. Vindos de Salvador, Emily Leal e Carlos Oliveira explicaram o que os fizeram topar tantas restrições. “Precisávamos sair um pouco do estresse e dessa pressão que a gente está vivendo. Precisávamos relaxar um pouco”, disse o professor, 31 anos. “Queríamos curtir um pouco um momento a dois. Se não pudemos mudar a realidade, nos adaptamos a ela”, completou a psicóloga, 26 anos.    

Emily Leal e Carlos Oliveira passam o fim de semana em Praia do Forte: relaxar (Foto: Tiago Caldas/ CORREIO)

O casal é exceção quando o assunto  são turistas, tão necessários à economia local. A expectativa da cidade, antes da pandemia, era inclusive de crescimento no movimento em relação ao ano passado, mas ao invés disso, as medidas de isolamento acabaram gerando uma queda de 100% na chegada dos viajantes.

“Havia previsões de crescimento para este ano, de acordo com a ocupação de janeiro e fevereiro, que foi superior ao ano passado. No entanto, os estabelecimentos com mais de 50 funcionários estão fechados em razão dos decretos, e não há turistas devido à pandemia, então houve uma queda de 100% no movimento”, explica a secretária de turismo do município, Aydil Longo.

Segundo a Associação Comercial e Turística da Praia do Forte (Turisforte), a ocupação dos meios de hospedagem nesse período era de 70%. Por conta da pandemia, as medidas de restrição precisaram ser implementadas, o que acabou contribuindo ainda mais para a baixa no movimento.

As medidas incluem, segundo a prefeitura, uso obrigatório de máscaras de proteção em espaços públicos e estabelecimentos comerciais; fechamento do comércio para todos os estabelecimentos com mais de 200 metros quadrados (com exceção dos serviços essenciais); suspensão de todos os eventos; proibição de circulação de transportes de turistas; barreiras sanitárias, entre outros. 

Para que o impacto com a perda dos turistas seja minimizado, a secretária explica que tem incentivado o serviço de delivery. “Muitas pessoas que têm segunda residência nas localidades do Litoral estão passando quarentena nessas casas, então estamos estimulando o delivery”, detalha Longo. 

O baque no turismo de Praia do Forte também é sentido por trabalhadores informais, a exemplo da baiana de acarajé Cláudia de Jesus. “Estou numa situação horrível, precária, sem ganhar um centavo”, afirmou. Mesma situação passa a vendedora de caipiroska Terezinha Batista. “A gente perdeu tudo. Não sabemos como vamos sobreviver”, lamentou. As duas vendem os produtos na praia, mas não estão conseguindo faturar por causa da queda de movimento provocada pela pandemia.    

A secretária de Turismo do município informou que há auxílio emergencial a esses trabalhadores e orientação em relação aos auxílios do governo federal, além do planejamento das ações voltadas ao turismo, para o retorno das atividades. Informações do Correio.