Como num filme de ficção científica, pesquisadores chineses traçaram um plano de enviar 23 dos maiores foguetes da China para desviar um asteroide enorme, algo que poderia ser crucial caso um corpo celeste entre de fato em rota de colisão com a Terra.
Segundo especialistas do Centro Nacional de Ciências Espaciais do país, simulações matemáticas apontaram que a estratégia de foguetes atingindo simultaneamente um grande asteroide poderia desviá-lo de seu caminho original a uma distância de 1,4 vezes o raio da Terra.
Os cálculos são baseados em um asteroide chamado Bennu, que orbita o Sol e é tão largo quanto o arranha-céus Empire State Building, em Nova York, que tem 381 metros de altura e está entre os 50 maiores edifícios do mundo. O Bennu pertence a uma classe de rochas com potencial para causar danos regionais ou continentais — estima-se que asteroides medindo mais de 1 km poderiam gerar consequências globais.
O estudo em torno do tema, assinado por seis pesquisadores, foi publicado recentemente na revista científica Icarus.
Nele, os cientistas afirmam que “os impactos de asteroides representam uma grande ameaça para toda a vida na Terra” e que a estratégia de lançar algo contra eles é a abordagem mais possível, porém com efeito limitado.
Por isso, eles passaram a calcular o envio de um conjunto de objetos contra eventuais asteroides em rota de colisão com o planeta.
Os foguetes Longa Marcha 5 citados no estudo são a chave para as ambições espaciais de curto prazo da China. Eles são usados para diferentes finalidades: desde carregar módulos de estações espaciais até lançar sondas à Lua e a Marte.
A China lançou com sucesso seis foguetes Longa Marcha 5 desde 2016. Mas o último gerou preocupações de segurança ao redor do mundo, uma vez que pedaços remanescentes dele reentraram na atmosfera em maio sem controle e poderiam atingir uma região habitada, algo que acabou não acontecendo.
“A proposta de manter o compartimento superior do foguete de lançamento para uma espaçonave guiadora, criando um grande “impactador cinético’ para desviar um asteroide me parece um conceito bastante bom”, disse o professor Alan Fitzsimmons, do centro de pesquisa em astrofísica da Queen’s University em Belfast, na Irlanda do Norte.
“Ao aumentar a massa que atinge o asteroide, a física simples deve garantir um efeito muito maior”, acrescentou Fitzsimmons à agência de notícias Reuters.
Para ele, no entanto, caso essa missão se torne realidade um dia, seriam necessários cálculos bem mais detalhados.
Atualmente, estimativas apontam que há quase 1% de chance de um asteroide de 100 metros de largura atingir a Terra nos próximos 100 anos, afirmou o professor Gareth Collins, da universidade Imperial College London, no Reino Unido.
“Algo em rota de colisão do tamanho de um Bennu é cerca de 10 vezes menos provável.”
Para os cientistas, alterar o caminho de um asteroide representa um risco menor do que explodir a rocha com explosivos nucleares, que podem criar fragmentos menores sem alterar seu curso.
O resultado prático de todos esses cálculos e hipóteses deve ser visto em breve. Em algum momento entre o final de 2021 e o início de 2022, os Estados Unidos lançarão uma espaçonave robótica para interceptar dois asteroides relativamente próximos da Terra.
Quando chegar ao destino, um ano depois, a espaçonave da Nasa (agência espacial americana) fará um pouso forçado no menor dos dois corpos rochosos para ver o quanto a trajetória do asteroide muda. Será a primeira tentativa da humanidade de mudar o curso de um corpo celeste. Com informações da agência de notícias Reuters.