Com receitas que alcançaram os R$ 26,4 bilhões e um lucro líquido de R$ 7,4 bilhões, a Braskem, que possui uma operação petroquímica no Polo Industrial de Camaçari, registrou o melhor segundo trimestre da sua história. Na comparação entre o primeiro semestre deste ano e os primeiros seis meses de 2020, a empresa também voltou a registrar um crescimento financeiro significativo. Neste caso, as receitas alcançaram R$ 49,1 bilhões, o que representou uma alta de 106%. No caso do lucro líquido, a petroquímica alcançou no primeiro trimestre um lucro de R$ 9,9 bilhões, revertendo um prejuízo de R$ 6,1 bilhões no primeiro semestre no ano passado.
No mercado nacional, as vendas de resinas produzidas pela empresa aumentaram 10% no segundo trimestre, segundo análise da empresa, por um processo de normalização da demanda no mercado interno, que estava retraído diante da pandemia do coronavírus. A demanda pelos produtos petroquímicos registrou uma elevação de 34%, na comparação com a registrada no mesmo período de 2020. No período compreendido entre abril, maio e junho deste ano, o resultado operacional da empresa no Brasil registraram uma alta de 20%, quando comparadas com o primeiro trimestre do ano, e de 429%, quando a comparação é com o segundo trimestre do ano passado.
“Os resultados da Braskem no trimestre refletem o positivo momento do cenário petroquímico internacional e o nosso compromisso com a higidez financeira, mantendo firme nosso objetivo de voltarmos ao nível de risco de grau de investimento”, destacou o presidente da Braskem, Roberto Simões. “Estamos trabalhando duro para continuar a contribuir para a retomada econômica e para atender bem nossos clientes e parceiros, sempre tendo como prioridade a segurança e a saúde de nossos integrantes”, disse.
A empresa informou que para reduzir a dívida bruta, concluiu uma série de operações no segundo trimestre, totalizando US$ 643 milhões. Adicionalmente, em julho, concluiu o resgate total do bônus com vencimento em 2022 no montante de US$ 255 milhões e o pré-pagamento do empréstimo bancário no valor de US$ 100 milhões.
Como reflexo, em maio, a agência de classificação de risco Fitch Ratings alterou a perspectiva do rating da Braskem para positiva, no nível de risco em escala global de BB+ e, em julho, a agência Moody’s alterou a perspectiva do rating da Braskem para estável, no nível de risco em escala global de Ba1.
O resultado da empresa, que fornece diversas resinas que servem para outros setores industriais, é um indicativo de que pelo menos parte da indústria buscou um volume maior de matérias-primas no primeiro semestre do ano. “O que a gente vem percebendo é que há um cenário de normalização na demanda por produtos químicos”, explica o vice-presidente de finanças, suprimentos e relações institucionais da Braskem, Pedro Freitas. Ele diz que o crescimento da Braskem abaixo da demanda do mercado no segundo trimestre se deu por conta da parada de produção da unidade da empresa no ABC Paulista. “Agora no terceiro trimestre nós acreditamos que podemos ter um aumento de market share (participação de mercado)”, destaca.
Nos mercados dos Estados Unidos e da Europa, o desempenho da Braskem também foi positivo, com aumentos de vendas de polipropileno em 26% no mercado norte-americano e de 14% no europeu. Entre os grandes mercados da empresa, o único que registrou retração no período foi o mexicano, com uma queda de 32% no mesmo período. De acordo com Freitas, a situação no México se explica porque havia mais disponibilidade de produtos para venda no ano passado.
Em relação ao processo de venda da Braskem, por parte da Novonor (antiga Odebrecht), Pedro Freitas diz que a petroquímica continua apoiando o processo de decisão da sócia controladora. “Até agora, não temos nenhuma novidade sobre o prosseguimento do processo”, diz. Segundo ele, não houve comunicação de nenhuma decisão até o momento.
O presidente da Braskem, Roberto Simões, explicou que o processo de venda está sendo discutido no âmbito dos acionistas da empresa, Novonor e Petrobras. “A Novonor iniciou o processo em função do acordo que tem com alguns credores e a Petrobras tinha demonstrado interesse em desfazer a participação dela”, explica.
De acordo com Simões, os projetos em curso na Braskem são voltados para o crescimento da empresa, “inclusive com novas plantas que a gente está olhando fora do Brasil e aqui no Brasil”.
Alagoas
A Braskem já apresentou mais de 8 mil propostas de realocações em Maceió (Alagoas), onde diversos bairros vêm registrando casos de afundamento de solo, que estariam relacionados à retirada de sal gema por parte da Braskem na região. A retirada do material, utilizado para a fabricação de soda cáustica, é uma das hipóteses para um desequilíbrio geológico na região. Segundo Pedro Freitas, 13.807 imóveis já foram desocupados, o que corresponde a 96% do total necessário.
Desde 2018, a Braskem vem contribuindo com o poder público na compreensão do fenômeno geológico e na minimização dos seus efeitos. A companhia assinou acordos com o Ministério Público Federal, o Ministério Público Estadual, a Defensoria Pública da União e a Defensoria Pública do Estado de Alagoas para promover a segurança e a compensação financeira dos moradores dos bairros atingidos pelo fenômeno e para a reparação socioambiental e urbanística da região.
Em relação à indenizações para a população afetada, a empresa informa já ter pago R$ 1,3 bilhão até o mês de junho. Mais de 8 mil propostas de indenizações já foram aceitas. “Temos quase 14 mil imóveis desocupados. Lembrando que a preocupação maior envolve as áreas de risco. Neste caso, já concluímos a realocação no ano passado e agora estamos concluindo o programa de desocupação nos locais que têm um risco menor”, explica. “A taxa de aceitação dos acordos propostos é de quase 100%, o que mostra que as ofertas são justas, bem equilibradas”, avalia.
Com base em sua avaliação e dos seus assessores externos, levando em consideração os efeitos de curto e longo prazo dos estudos técnicos, a estimativa de gastos para implementação de diversas medidas referentes ao evento geológico em Alagoas apresentada em 30 de junho é de R$ 7,6 bilhões. Em dezembro de 2020, a provisão de recursos da Braskem para a situação era de R$ 9,1 bilhões.
Dividendos
Diante dos resultados obtidos e de uma baixa alavancagem – o que indica um baixo endividamento em relação à rentabilidade –, a empresa confirmou que avalia retomar o pagamento de dividendos aos seus acionistas no segundo semestre deste ano.
“É natural pensar em dividendos no momento em que estamos com uma alavancagem baixa, a gente vem discutindo isso internamente. É algo que estamos analisando, sem dúvida nenhuma. Vamos voltar a discutir no segundo semestre”, avisa Pedro Freitas. “Seria natural pensar nisso”. Informações do Correio*.