Um grupo de metalúrgicos dispensados de empresas que prestavam serviço à Ford iniciou uma manifestação em frente ao Fórum do Trabalho em Camaçari, na região metropolitana de Salvador, na manhã desta quarta-feira (25). Eles pedem celeridade no julgamento do processo trabalhista, para que sejam pagas as verbas de indenização.
De acordo com os trabalhadores, cerca de 1.500 funcionários foram dispensados com o encerramento das atividades da Ford em Camaçari. Os metalúrgicos dizem que somente funcionários que trabalhavam dentro do complexo receberam os pagamentos.
Os outros, que atuavam nas chamadas “empresa satélite”, receberam somente a rescisão, mas não foram pagos os valores pela quebra de contrato.
Um dos metalúrgicos dispensados com a quebra do contrato entre a Ford e as empresas, Rogério Almeida, disse que o processo já foi encaminhado à Justiça e pede que a juíza responsável atente ao pedido da categoria.
“Teve o processo da Ford, onde todo o pessoal de dentro do complexo foi indenizado. O pessoal das empresas satélites até hoje não recebeu. Essa manifestação é para que ajuíza venha nos dar um parecer favorável. O processo já está nas mãos da Justiça e estamos em frente ao fórum pedindo que ela nos dê este parecer”.
Ao todo, cinco empresas que prestavam serviço à montadora tiveram o contrato finalizado. O vínculo seria válido até 2024.
Negociações difíceis e protestos
A decisão motivou protestos em dias distintos por parte dos funcionários da Ford, localizada em Camaçari. Foram feitas manifestações na frente da fábrica da montadora e no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador.
No dia 5 de fevereiro, a Justiça do Trabalho concedeu uma liminar que suspendia a demissão coletiva de funcionários da fábrica de Camaçari. A decisão proibia demissões até que o acordo entre a empresa e os funcionários fosse encerrado.
No dia 23 de fevereiro, cerca de 700 funcionários da Ford retornaram aos postos de trabalho, em Camaçari. A retomada foi, inicialmente, por 90 dias e aconteceu depois de negociações entre o sindicato da categoria e a empresa.
Na época, ficou decidido também que outros 327 trabalhadores retornariam em março, 189 em abril e 31 funcionários seriam convocados em maio.
Em março, outra decisão judicial emitida suspendeu o desligamento de empregados da Ford que atuam em funções de liderança e supervisão, na fábrica de Camaçari. A informação foi divulgada pelo Ministério Público do Trabalho (MTB-BA), no dia 29, data em que as demissões iriam ser realizadas.
A decisão também afetava as empresas que forneciam insumos para a montadora e estão instaladas no complexo industrial no município baiano.
Encerramento da Ford no Brasil
A Ford anunciou no dia 11 de janeiro o encerramento da produção de veículos em suas fábricas no Brasil após um século. A montadora mantinha fábricas em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), para carros da Ford, e em Horizonte (CE), para jipes da marca Troller.
A empresa, que fechou 2020 como a quinta que mais vendeu carros no país, com 7,14% do mercado, continuará comercializando produtos no Brasil.
Em comunicado divulgado para a imprensa, a fabricante diz que a decisão foi tomada “à medida em que a pandemia de Covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”.
Em carta a concessionários obtida pela Globo, a montadora afirmou que “desde a crise econômica em 2013, a Ford América do Sul acumulou perdas significativas” e que a matriz, nos Estados Unidos, tem auxiliado nas necessidades de caixa, “o que não é mais sustentável”.
À época do anúncio do fechamento das fábricas, a Ford informou que aproximadamente 5 mil empregos seriam afetados com a reestruturação no Brasil e na Argentina. O país vizinho sofreria ajustes pelo encerramento da produção no Brasil, mas continuará produzindo veículos.
A unidade de Camaçari, que produzia Ka e EcoSport, e a de Taubaté (SP), onde eram feitos motores e transmissões, foram fechadas imediatamente, reduzindo a produção às peças para estoques de pós-venda.
Fonte: G1