Como a variante ômicron virou o novo medo da pandemia

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Quando o mundo imaginava a pandemia mais perto de se tornar página virada, uma sílaba reativou o medo que varreu o planeta a partir de março de 2020. Batizada inicialmente de Nu, 13ª letra do alfabeto grego, a nova variante do coronavírus descoberta na África do Sul elevou o nível de tensão em escala global e provocou impactos significativos de ordem econômica, social e sanitária, diante dos riscos reais de que outra onda de covid prolongue a crise por prazo indeterminado.

O pânico ganhou intensidade na sexta-feira, após a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluir a Nu, renomeada oficialmente como Ômicron, na lista de variantes de preocupação, da qual fazem parte quatro versões anteriores do vírus consideradas relevantes para a progressão da pandemia: Alfa, detectada pela primeira vez no Reino Unido; Beta, também descoberta na África do Sul; Gama, identificada no Brasil; e Delta, originada na Índia. Contudo, a nova vilã gerou temor muito maior que as demais.

O motivo para tamanho medo tem como pano de fundo a característica da variante, reportada à OMS pelas autoridades sul-africanas na última quarta-feira. Embora a organização considere muito cedo para determinar o grau de letalidade e contágio, os estudos iniciais apontam a Ômicron como fonte de 50 mutações, o maior número entre todas as outras. Para piorar, 30 delas são ligadas à proteína “spike”, um tipo de chave que o vírus utiliza para penetrar as células e alvo da maioria das vacinas contra a covid.

“Evidências preliminares sugerem que há um risco aumentado de reinfecção com esta variante, em comparação com as outras versões do coronavírus. Houve uma mudança prejudicial na epidemiologia da covid-19”, informou a OMS, em comunicado emitido após uma reunião fechada de especialistas independentes escalados para analisar e revisar os dados sobre a Ômicron. Além da África do Sul, a variante já foi detectada em Botsuana, Israel, Hong Kong e Bélgica.

Por efeito direto, até a noite de sexta ao menos 10 países ou territórios haviam fechado as portas para viajantes ou voos vindos da África do Sul e outras sete nações do continente: Botsuana, Eswatini, Lesoto, Malaui, Moçambique, Namíbia e Zimbábue. As barreiras mais duras foram impostas pelo Reino Unido,

Alemanha, Suíça, França, Itália, Estados Unidos e Israel. Em movimento simultâneo, diversos outros governos cogitaram medidas semelhantes. O que pode levar a África a um processo gradativo de isolamento, com o mundo voltando as costas para ela.

Ainda na sexta, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou nota técnica sugerindo que o governo brasileiro adote medidas de restrições para voos e viajantes vindos de parte da África. A principio, a recomendação da Anvisa foi descartada pelo presidente Jair Bolsonaro. Horas depois, entretanto, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, anunciou que o país fechará as fronteiras para cidadãos de seis países africanos localizados na área de risco. 

A nova variante mobilizou dois laboratórios que produzem vacinas de largo uso contra a covid. Tanto a AstraZeneca/Oxford quanto a Pfizer/BioNTech anunciaram a realização de testes contra a Ômicron. O objetivo é saber  se ambas são eficientes para a versão e medir o grau de proteção, em meio ao receio de que parte dos imunizantes não tenha resposta efetiva.

Bahia

A infectologista Ceuci Nunes, diretora do Instituto Couto Maia, hospital referência em  doenças infectocontagiosas, explica que a nova variante preocupa, pela aparente rapidez com a qual se propaga. Para ela, é fundamental impedir que a Ômicron chegue à Bahia. “Mas o estado não tem autonomia para fechar fronteira, isso é da competência do governo federal”, afirmou.

Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fernanda Grassi destaca que a nova mutação pode comprometer a eficácia das vacinas, especialmente Oxford e Pfizer. Por isso, acrescenta  o epidemiologista Celso Sant’Anna, professor da UniFTC, é preciso avançar na vacinação plena, para reduzir o contágio, e manter os protocolos sanitários. “Não podemos baixar a guarda”, alerta.

Já pode estar no Brasil, afirma chefe da Anvisa

Em entrevista à CNN, o diretor-presidente Anvisa, Antonio Barra Torres, afirmou no fim da tarde de sexta-feira que a variante Ômicron pode estar em circulação no Brasil, embora não exista caso detectado até o momento. “Realmente, a possibilidade existe, não temos como dizer que é zero chance de já estar no Brasil”, salientou. 

Segundo Barra Torres, a medida de restrição de voos vindos de países africanos é uma forma de “mitigar ou atrasar ao máximo” a chegada da nova variante. “É importante que a população se conscientize que a pandemia ainda não acabou, o apito final deste jogo ainda não foi dado. Nós temos sim uma cultura vacinal muito forte, temos milhões de pessoas aderindo voluntariamente à vacinação. Temos como evitar (a propagação da covid pela nova variante) mantendo uma cultura de vacinação forte”, disse o chefe da Anvisa à CNN.

Fonte: Correio*