De Camaçari para o mundo. Mais especificamente, para Dubai. É assim que dá para resumir os passos da estudante Ana Lima, de 19 anos, nesse início de 2022. Nascida e criada no bairro periférico Verde Horizonte e estudante do curso médio de eletromecânica no IFBA de sua cidade, ela será a única representante brasileira na ‘Global Peace Summit Dubai 2022’, conferência internacional da ONU sobre mudanças climáticas.
A baiana foi selecionada para o evento depois de passar por um processo seletivo com redações e entrevistas entre milhares de brasileiros de 16 a 40 anos. Junto com ela, outros dois foram selecionados. Nenhum deles irá por falta de recursos para pagar a viagem que vai custar, aproximadamente, R$ 9 mil de passagem, hospedagem, alimentação e até testes de covid-19.
Assim como os outros, Ana e sua família não têm condições de arcar com as despesas. De janeiro para cá, conseguiram reunir apenas o valor da hospedagem e dos testes através de um vaquinha. Mesmo assim, ela embarcaria na madrugada desta terça-feira (22) de São Paulo para Dubai.
“Tô indo na cara e na coragem porque é meu sonho. Minha mãe disse ‘vai na fé que esse dinheiro vai chegar’. Então, compramos passagem mesmo sem saber como vamos pagar. É aquele negócio: divide no cartão em mil vezes e vai”, brinca Ana, que participa da conferência de 23 a 26 de fevereiro.
Oportunidade única
Deixando a brincadeira de lado, a estudante afirma que resolveu correr o risco de lidar com uma dívida alta pela seriedade com a qual trata o tema das mudanças climáticas e pelo que a conferência pode representar para ela.
“É uma cúpula global bem importante sobre mudanças climáticas e climatização. Um momento para discutir a agenda da ONU para 2022 e projetos de impacto que serão apresentados lá. Pra mim, é um sonho”, diz a jovem.
Apesar de já desenvolver um projeto sobre climatização, não é dessa vez que Ana vai apresentá-lo para o mundo todo. Pelo menos nessa edição, ela vai como ouvinte. O que não reduz em nada o orgulho da família.
“Muito orgulho, quase que não cabe no peito. E não sou só eu: a família toda está assim. Até as primas ficam falando pro povo que são parentes de uma menina muito inteligente que vai ser a única representante do Brasil em um evento internacional. É um marco para a família”, fala Lidiane Lima, 41, mãe da estudante.
Formada em História, mas desempregada no momento, Lidiane diz que o feito não surpreende. Segundo ela, a filha sempre foi muito dedicada aos estudos e projetos.
“Desde pequena é assim pra frente! Sempre quis estudar e aprender mais coisas, nunca tive problema com ela em relação a isso. O resultado é que, mesmo sempre em escola pública, ela segue dando grandes passos”, completa Lidiane.
Dedicação
Essa é a primeira vez que Ana vai sair do Brasil, mas não se trata do primeiro evento internacional em que ela participa. Muito interessada nesse tipo de experiência, ela já fez parte de outro.
“Eu sempre procuro oportunidades. Já participei de um programa de verão online da Universidade do Porto, de Portugal. Dessa vez, achei essa conferência e me inscrevi. Inclusive, já tem outra no Canadá que quero ir e apresentar projeto”, afirma Ana.
Mesmo com muita vontade de ocupar esses projetos, a estudante sabe que a missão não é fácil para alguém de origem periférica.
“Nossa família é bem humilde, sou de um bairro pobre e não temos condições para bancar tudo isso. Mas, mesmo assim, não quero parar de tentar porque é só por isso que tô indo hoje pra fora”, conclui.
Quem quiser e puder ajudar Ana com qualquer quantia, pode contribuir tanto pelo site da vaquinha como por transferência via pix para a seguinte chave (71) 98693-3748.
Fonte: Correio