Soldado russo que matou civil é condenado à prisão perpétua na Ucrânia

Foto: Christopher Furlong/Getty Images

O sargento russo Vadim Shishimarin (foto principal), de 21 anos, foi condenado nesta segunda-feira (23/5) à prisão perpétua por ter atirado e matado um civil ucraniano. A condenação é a primeira considerada como crime de guerra a ser julgado na Ucrânia desde o início com o conflito com a Rússia, que completa três meses nesta semana.

Segundo denúncia da Procuradoria-Geral da Ucrânia, Shishimarin estava em um carro quando atirou contra um cidadão ucraniano de 62 anos anos que andava por uma rua de Kiev, capital do país, em 28 de fevereiro.

A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito.

A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local.

Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km.

Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia.

Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país.

A Rússia iniciou um treinamento militar junto à aliada Belarus, que faz fronteira com a Ucrânia, e invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro.

Por outro lado, a Otan, composta por 30 países, reforçou a presença no Leste Europeu e colocou instalações militares em alerta.

Apesar de ter ganhado os holofotes nas últimas semanas, o novo capítulo do impasse entre as duas nações foi reiniciado no fim de 2021, quando Putin posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Os dois países, que no passado fizeram parte da União Soviética, têm velha disputa por território.

Além disso, para o governo ucraniano, o conflito é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Crimeia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos na região para incorporá-la a seu território.

Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida para desestabilizar constantemente o país e financiar grupos separatistas que atentam contra a soberania do Estado.

O conflito, iniciado em 24 de fevereiro, já impacta economicamente o mundo inteiro. Na Europa Ocidental, por exemplo, países temem a interrupção do fornecimento de gás natural, que é fundamental para vários deles.

Embora o Brasil não tenha laços econômicos tão relevantes com as duas nações, pode ser afetado pela provável disparada no preço do petróleo.

A relação conturbada entre Rússia e Ucrânia, que desencadeou conflito armado, tem deixado o mundo em alerta para uma possível grande guerra.

De cabeça baixa, o soldado ouviu os juízes relembrarem do caso. Eles disseram que a vítima, Oleksandr Shelipov, “não representava qualquer ameaça”. Dessa forma, não poderia ter sido alvo dos militares. Segundo os magistrados, Shishimarin acabou “violando as convenções internacionais (…), cumprindo uma ordem criminal, compreendeu que Shelipov era um civil e não representava nenhuma ameala”.

Em sua defesa, o soldado russo disse que agiu sob ordens do comandante de sua equipe. Durante o julgamento do caso, na semana passada, Vadim Shishimarin reconheceu o crime e pediu perdão à viúva do ucraniano. Além de responder pelo crime de guerra, ele também foi julgado por homicídio premeditado.

“Sei que você não poderá me perdoar, mas, mesmo assim, peço perdão”, disse o sargento no julgamento.

Desde o início do conflito com a Rússia, a Ucrânia disse ter identificado ao menos mil suspeitas de crimes de guerra. Informações do Metrópoles.