Bahia tem 13% em extrema pobreza

Foto: ARQUIVO/AGÊNCIA BRASIL

O Brasil atingiu um nível recorde de pessoas vivendo em condições de miséria no ano passado, 13.537 milhões de brasileiros, contingente maior do que toda a população da Bolívia. Na Bahia, quatro em cada dez baianos (42,9% da população) e um em cada cinco soteropolitanos (22,3%) vivem nessa condição. Em números absolutos, são 6,3 milhões de pobres  e 1,9 milhão de extremamente pobres no Estado. 

Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2019, com base em dados de 2018, divulgada nesta quarta, dia 06, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com a SIS 2019, o país tem mais miseráveis do que a soma de todos os habitantes de países como Portugal, Bélgica, Cuba ou Grécia. 

“A pequena melhora no mercado de trabalho não está chegando a essas pessoas, está pegando pessoas já numa faixa (de renda) mais alta. A extrema pobreza cresce”, ressaltou André Simões, gerente da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.

A pesquisa do IBGE considerou a classificação do Banco Mundial para a pobreza extrema, ou seja, pessoas com rendimentos inferiores a US$ 1,90 por dia, o equivalente a cerca de R$ 145,00 mensais (pelo método de paridade de poder de compra) no Brasil.

Na Bahia, essa linha do Banco Mundial equivalia, em 2018, a um ganho mensal de apenas R$ 143. “O principal programa de redução de pobreza do Brasil tem uma linha de corte de R$ 89,00. Mesmo a pessoa recebendo Bolsa Família, ela vai estar abaixo de uma linha de pobreza global. Está bastante longe dos R$ 145,00. A linha usada para administração do Bolsa Família está abaixo da linha de pobreza internacional”, lembrou Leonardo Athias, técnico também na Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.

Segundo Marcelo Neri, diretor da FGV Social e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a extrema pobreza vem crescendo nos últimos anos em função de uma deterioração do mercado de trabalho, que penalizou especialmente trabalhadores com menor escolaridade, mas também porque o Bolsa Família estaria defasado.

“Isso implica que os beneficiários estejam recebendo menos, mas também há menos pessoas recebendo o benefício. Teve melhora na eficácia, o governo passou um pente-fino. Mas muita gente deixou de ter renda com a crise e o desemprego, e o Bolsa Família não foi uma rede de proteção eficiente para segurar todas essas pessoas que passaram à extrema pobreza”, avalia Néri.

Mais miseráveis 

O programa Bolsa Família, voltado para a redução da extrema pobreza, atende às famílias com renda per capita de até R$ 89 mensais. Famílias com renda per capita entre R$ 89,01 e R$ 178,00 mensais podem ser contempladas apenas se tiverem crianças ou adolescentes até 17 anos. O porcentual de famílias que recebem Bolsa Família caiu em sete anos, segundo o IBGE, passando de 15,9% , em 2012, para 13,7%, em 2018.

O total de miseráveis no país vem crescendo desde que começou a crise, em 2015. Em 2014, 4,5% dos brasileiros viviam abaixo da linha de extrema pobreza. Em 2018, esse porcentual subiu ao patamar recorde de 6,5%. Em quatro anos de piora na pobreza extrema, mais 4,5  milhões de brasileiros passaram a viver na miséria, a maioria pretos  ou pardos.

Recordista absoluta

Embora tenha a quarta maior população total do país, a Bahia era, em 2018, o estado com maior número absoluto de pessoas abaixo da linha de pobreza. Em termos percentuais (42,9%) tinha a sétima maior proporção de pobres do Brasil. Dentre os estados, Maranhão (53,0%), Alagoas (48,4%) e Amapá (45,8%) tinham os maiores percentuais de pessoas abaixo da linha de pobreza; enquanto Santa Catarina (8,0%), DF (13,1%) e Rio Grande do Sul (13,1%) tinham os menores.

Dentre as capitais, Macapá/AP (39,2%), São Luís/MA (32,6%) e Recife/PE (31,4%) têm os maiores percentuais de pessoas abaixo da linha de pobreza. No outro extremo, Florianópolis/SC (4,1%), Curitiba/PR (8,4%) e Goiânia/GO (8,8%), os menores.

Tanto na Bahia, quanto no resto do Brasil, o percentual de pobres, embora ainda elevado, caiu em 2018 pela primeira vez depois de três anos de crescimento. Nos dois casos, porém, a redução ainda está bem distante do menor patamar da série de medições do SIS ( iniciada em 2012), que foi o índice verificado em 2014. Naquele ano, 37,5% dos baianos e 22,8% dos brasileiros estavam abaixo da linha de pobreza.

Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça, em média, 2,5% ao ano até 2030 sem que haja concentração de renda, o país ainda terá ao fim da próxima década o mesmo contingente de miseráveis de 2014, acrescenta Néri. Informações do Jornal Correio.