Busca por moradia temporária cresce 24%

Refugiar-se em regiões afastadas dos grandes centros urbanos foi se tornando o desejo de muitos desde que a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil. As buscas por imóveis de forma geral – seja para alugar ou comprar – caíram consideravelmente em todo o setor imobiliário. Ainda assim, as plataformas online de venda e aluguel já conseguem observar um aumento de 24% na procura por moradia temporária em regiões mais afastadas dos centros.

“A procura existe, mas de forma alguma ela é grande o suficiente para nos fazer ignorar as quedas e perdas do setor”, afirma José Alberto de Vasconcellos Oliveira, diretor do Creci-Bahia e proprietário da José Alberto Imóveis. Muitos que planejavam comprar adiaram seus planos com o início do isolamento e a crise econômica, e “quem tem o hábito de alugar desistiu apenas um pouco menos dos planos”. E esses que estão levando seus planos em frente fazem parte de um perfil interessante de cliente.

“São aqueles bons clientes, decididos na hora de comprar, que não têm tempo sobrando e têm muita pressa. Então são negócios fechados bem rápido. É um alívio, mas ainda assim não é nada que possa nos fazer pôr de lado o fato de que o setor sofreu um grande baque. Em minha imobiliária, por exemplo, onde administro cerca de 1.700 imóveis, tanto as vendas quanto os aluguéis caíram 60% desde o início da pandemia”, desabafa José Alberto.

E essa situação se repete nas plataformas globais de aluguel. O interesse realmente tem sido alto, explica Marcelo Dadian, diretor de imóveis da plataforma OLX, “visto que todos os dias temos uma média de seis milhões de acessos”. Porém, quando a categoria de imóveis é analisada separadamente, a mudança nas buscas possui características específicas, como, por exemplo: antes da Covid-19 a procura por imóveis se concentrava nas segundas-feiras e agora estão distribuídas na semana.

“Todos os dias temos uma média de 6 milhões de acessos”, Marcelo Dadian, da OLX | Foto: Divulgação | OLX

Isso, é claro, aconteceu devido às pessoas estarem mais em casa e com mais tempo para discutir a decisão de aluguel ou compra de imóvel com a família. “Ainda assim, categorias como imóveis de temporada e imóveis para comércio e indústria têm sido menos buscadas do que no período antes e pré-quarentena”, explica Marcelo. Mas buscas ainda existem, só que, no caso da Bahia, as cidades mais procuradas em março e abril ainda são as mais centrais, como Salvador, Lauro de Freitas e Feira de Santana.

Ele conta que a busca de imóveis para compra no estado cresceu 26% em março e abril em comparação ao mesmo período de 2019. Já a procura por imóveis baianos para alugar cresceu 19% na plataforma, na mesma comparação. “Alguns percebem que precisam de mais espaço ou de privacidade, sentem falta de uma sacada ou de um cômodo que sirva de escritório. Essas novas necessidades devem ser refletidas no mercado futuramente. Imagine os projetos de arquitetura de novos empreendimentos, eles deverão repensar os escritórios, opções de lazer e estruturas e serviços dentro de condomínios, por exemplo”, diz.

Esse aumento na procura, afirma Marcelo Borges, diretor de condomínio e locação da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), podia ser observado principalmente no início das medidas restritivas no Brasil. “O que revelava o desejo de algumas pessoas de cumprir o isolamento social de uma forma mais agradável e longe das rotinas das grandes cidades. Mesmo na baixa temporada, conseguimos apurar, por exemplo, um aumento de 30% na procura de imóveis com essa característica no Rio de Janeiro”.

Por mais tempo

Por meio de nota, a plataforma Airbnb informou à reportagem que em março, quando o isolamento começou, o número de reservas mais longas (acima de 28 dias) no Brasil foi 24% maior que no mesmo período do ano passado. No mundo todo, cerca de 80% dos anfitriões estão aceitando reservas desse tipo, e cerca de metade das acomodações do Airbnb agora tem descontos para períodos de permanência de um mês ou mais.

Já entre os perfis de hóspedes estão idosos, famílias em busca de mais espaço para que as crianças possam fazer suas tarefas enquanto os pais trabalham de casa e estudantes universitários que precisam se acomodar enquanto as instituições de ensino estão fechadas. Mas essa procura por regiões mais distantes no Brasil, mesmo que esteja acontecendo, ainda não é nada muito gritante, afirma Deborah Seabra, economista sênior da plataforma brasileira Zap Imóveis.

“Naturalmente tivemos uma queda no número de buscas e interesse por imóveis. O mercado inteiro sofreu isso. O que vivemos hoje na Zap é o crescimento das buscas, nos aproximando do nível que alcançamos no último Carnaval. A procura por regiões mais ermas existe, mas não é gritante. Tem aumentado a noção de que ‘eu posso ir para um pouco mais longe’ das regiões centrais, mas as pessoas ainda estão se acostumando com a quarentena e voltando aos hábitos antigos, dentro do possível”.

“Tem aumentado a noção de ‘eu posso ir para um pouco mais longe'”, Déborah Seabra, da ZAP Imóveis | Foto: Divulgação | ZAP

Deborah ainda conta que a equipe da plataforma está no meio de uma pesquisa que está analisando esses dados e que, até o momento, já puderam perceber que o comportamento do consumidor do Nordeste está mudando menos que os das outras regiões. “Certamente porque o processo de quarentena demorou para guinar na região, mas como as medidas restritivas estão ficando mais rígidas, esse comportamento de migração deve se acentuar um pouco mais agora”, ela explica. Informações do Portal A Tarde.