12 mil empregos serão extintos com o encerramento das atividades do Complexo Ford Nordeste em Camaçari. Isso é um fato confirmado pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim, que afirmou ainda que outros 60 mil postos de trabalho indiretos serão afetados. O anúncio da saída da montadora do Brasil veio como uma surpresa para todos os setores da economia, quer local, estadual ou a nível federal e deve impactar bastante a nossa economia.
Da mesma forma como a implantação da montadora aqui no Nordeste, mais precisamente em Camaçari, o anúncio do encerramento das atividades também acontece de forma histórica, e vai ficar marcado na história do Brasil e certamente significa o início de uma nova etapa da economia do município, sobretudo num momento de crise econômica mundial.
O reflexo do êxodo da montadora para fora do Brasil pode refletir sobretudo no comércio local. Para o representante da Associação Comercial e Empresarial de Camaçari (ACEC), Luciano Sacramento, o encerramento das atividades da Ford em Camaçari vai influenciar no dia a dia da economia da cidade: “a Ford representava muito para Camaçari, o impacto vai ser muito grande, eu acredito que a curto ou médio prazo, isso vai ter um influencia muito grande no dia a dia (…) de imediato a gente vai ter muitos problemas. Eu tenho certeza que a economia daqui vai sentir bastante, o comércio vai sentir”.
Ele acredita ainda que devido ao forjamento do desenho do cenário econômico, com o fechamento da empresa e os impactos causados pela pandemia, para se fortalecer, o comércio precisa: “continuar se reinventando como estava. Desde a pandemia, temos enfrentado muitos problemas, mas realmente nós estamos nos mobilizando como podemos, mas a situação é muito crítica, não tem uma visão muito correta do que vai acontecer e do que pode acontecer conosco que somos comerciantes, todos nós vamos ser atingidos”, cravou.
Comércio pode ser uma alternativa à indústria na geração de emprego
Juranildes Araújo, representa o Sindicato do Comercio Patronal de Camaçari (Sicomercio) e acredita que esse papel compete também e principalmente aos governos dos municípios que compõem a rede de trabalhadores que serão prejudicados diretamente neste momento: ” vai ser um caos, se os governantes destes municípios (Camaçari, Dias D’ávila, Lauro de Freitas e Simões Filho) não se posicionarem para, conseguir dinamizar de ombro a ombro com esses empregados, a região com novos empreendimentos na área industrial, e, estimulando o comércio, que é o setor que mais gera emprego e é bastante abandonado”.
Ela defende a criação de mecanismos por parte do poder público que viabilizem e fortaleçam a exploração do comércio na cidade: “é preciso dar estímulos ao comércio, serviços e turismo, que andam desprezados, é necessário reduzir taxas do comércio, como IPTU, taxa de abertura de empresa, que isso já será um incentivo, taxa de comunicação visual, providenciar crédito de verdade para pequenas empresas, o ITiV parar de ser superfaturado, e produzir estímulos e trazer novos investimentos para região, inclusive um polo têxtil, que cairia muito bem”.
Para Ivanilda Pinto, presidente do grupo Comércio Unido e Forte de Camaçari (CUF), ao longo do tempo o município tem olhado demais para o Polo Industrial como a única referência de receita do município, sem estabelecer alternativas, principalmente junto ao comércio, que é um dos grandes responsáveis pela geração de emprego: “o que se sente, na verdade, é que Camaçari se acomodou com uma alta receita do Polo, gastou e continua gastando mal, sem planejamento e não gera alternativas para que o empreendedor se desenvolva e se fixe em Camaçari. Serão dias difíceis, mas as alternativas estão nas nossas mãos para que Camaçari seja uma cidade pujante e mais independente do Polo Petroquímico”.
E acredita que a recuperação deve acontecer em três etapas, começando pelo setor do comércio: “podemos dizer que para amenizar uma crise desse tamanho ela se divide em curto, médio e longo prazo. Curto será o fortalecimento do segmento que mais emprega: o comércio. Camaçari precisa ser vista no estado, na região, como um grande polo nessa área. Nos deixa claro a importância de qualificar melhor, ter preços melhores, ter feiras de atrações para que possamos absorver grande fatia dos desempregados que já existe na cidade (que vai ser agravada ainda mais com fechamento da Ford); ao médio e longo prazo é o dever de casa que não foi feito e que precisamos fazer: são muitos impostos, tributos, precisamos amenizar. É uma luta ser empresários nesse país, não aguentamos mais”.
E sugere: “teremos que fazer um grande pacto no município para que possamos encontrar o caminho do desenvolvimento econômico, porque, em Camaçari, como outras cidades, ao invés da política nos unir, ela nos separa. Isso, quem paga é o povo. As decisões não podem ser tomada sem ouvir a população. Estamos fadados a dias piores. Imagine vocês, o fechamento de uma Braskem, como ficará Camaçari? passa pelo grande pacto da sociedade em busca do seu desenvolvimento”.
Segundo a Secretaria do Desenvolvimento Econômico (Sedec) do município, quanto ao desemprego e geração de renda, o prejuízo é incalculável e terá impacto na vida de milhares pessoas. Atualmente, a empresa possuía cerca de 1.600 funcionários diretos, além dos empregos indiretos relacionados ao setor de autopeças. Todos serão afetados pelo fechamento da fábrica.
***Nossa reportagem também tentou ouvir o presidente da CDL Camaçari, Pedro Reis, mas não conseguimos contato.
Por Ailton Gonçalves