Camaçari: Ex-funcionários da Ford protestam e cobram pagamento de indenização

Foto: Redes sociais

Ex-funcionários da Ford, montadora de veículos, protestaram na manhã desta sexta-feira (14), na BA-535, mais conhecida como Via Parafuso, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. A pista está bloqueada e pneus são incendiados pelo grupo.

De acordo com os trabalhadores, a manifestação é realizada porque o pagamento de indenização dos ex-funcionários das empresas parceiras da montadora ainda não foi feito. Os acordos de indenização foram feitos pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Bahia.

Durante esses acordos, os ex-funcionários de algumas das empresas parceiras da Ford não foram contemplados com as indenizações. Agora, o grupo cobra tanto a Ford quanto o sindicato, pela decisão.

“Pais de família pararam a Via Parafuso hoje, em um protesto contra o Sindicato dos Metalúrgicos, da decisão que foi tomada por eles, na mesa de negociação. A decisão prejudicou mais de 1.500 pais de família”, disse um dos ex-funcionários.

O g1 entrou em contato com a montadora, para saber um posicionamento sobre a situação, bem como se há uma previsão de pagamento dessas indenizações, mas ainda não obteve resposta.

A reportagem também procurou o sindicato, que informou que existe uma ação judicial empreitada contra todas essas empresas citadas pelos manifestantes, e que sindicato espera resposta da justiça para que essas questões sejam resolvidas.

A Ford anunciou o encerramento dos trabalhos no Brasil em janeiro de 2021. Além da fábrica de Camaçari, a empresa também tinha fábricas em Taubaté (SP) e em Horizonte (CE). Quando fechou, a montadora era a quinta maior vendedora de carros no Brasil, com 7,14% do mercado.

Prestadores de serviço da Ford protestaram por indenizações após fábrica fechar, em 2021 — Foto: Reprodução/TV Bahia
Prestadores de serviço da Ford protestaram por indenizações após fábrica fechar, em 2021 — Foto: Reprodução/TV Bahia

Encerramento das atividades

Fábrica do Ford Ka, em Camaçari — Foto: Divulgação
Fábrica do Ford Ka, em Camaçari — Foto: Divulgação

Na época, a montadora informou que a decisão foi tomada “à medida em que a pandemia de Covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”.

Centenas de funcionários da empresa, diretos e indiretos, protestaram contra o fechamento da fábrica, nas semanas seguintes ao anúncio. A Ford alegou que cinco mil empregos seriam afetados, mas o Sindicato dos Metalúrgicos da Bahia avaliou que 12 mil trabalhadores ficaram desempregados.

R$ 2,15 bilhões em indenização para o governo

Veículos EcoSport são montados na fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia, em outubro de 2007 — Foto: Wilson Pedrosa/Estadão Conteúdo/Arquivo
Veículos EcoSport são montados na fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia, em outubro de 2007 — Foto: Wilson Pedrosa/Estadão Conteúdo/Arquivo

O governo da Bahia foi indenizado em R$ 2,15 bilhões pela Ford, por causa do fechamento. O valor foi resultado de um acordo entre as partes. Na época dessa transação, em junho de 2021, a montadora preferiu não se posicionar sobre o caso.

No entanto, fontes do estado informaram que a Ford estava trabalhando com todas as empresas parceiras de negócio, para desenvolver um plano que iria minimizar os impactos do encerramento da produção, incluindo sindicatos, fornecedores e distribuidores.

Queda na arrecadação

5 pontos: Ford encerra produção no Brasil

Um ano após o encerramento das atividades da fábrica, Camaçari convive com perda na arrecadação de receitas e impactos fortes no comércio causado pelas demissões. A cidade que abriga o maior Polo Industrial da Bahia.

Segundo a Secretaria Municipal de Administração de Camaçari, a cidade tinha arrecadação anual de cerca de R$ 1,3 bilhão em impostos, perdeu R$ 30 milhões do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e mais R$ 100 milhões do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da receita líquida.

O setor da Educação também foi afetado, por causa dos cancelamentos de matrículas, sobretudo as universidades, mas também o ensino médio e fundamental das escolas particulares. A prefeitura calcula que cerca de R$ 20 milhões mensais deixaram de circular em Camaçari após a saída dessas pessoas do município.

Substituta da Ford

Após o anúncio da Ford, o governador da Bahia, Rui Costa, afirmou que procurou a Embaixada da China para sondar investidores para assumir o ramo da empresa do ramo automobilístico no estado. No entanto, a cidade continua sem uma substituta.

Em nota, o governo baiano afirmou que atua no sentido de atrair outra grande indústria para ocupar a área da Ford em Camaçari. O órgão afirmou que o governador Rui Costa obteve algumas sinalizações positivas após ações para a chegada de uma nova empresa.

O governo não detalhou quais foram as sinalizações positivas, mas disse que tem ocorrido desdobramentos destes contatos.

Para tentar minimizar os prejuízos, o secretário de Administração de Camaçari informou que o município fez uma lei para incentivar novos investimentos industriais. Contudo, o resultado não foi dos melhores e apenas uma empresa aderiu.

Polo industrial

Pólo de Camaçari, na região metropolitana de Salvador — Foto: Divulgação/Cofic
Polo de Camaçari, na região metropolitana de Salvador — Foto: Divulgação/Cofic

O maior Polo Industrial da Bahia foi instalado em Camaçari há 43 anos e aposta em tecnologia de ponta para se destacar no mercado. Segundo o Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), atualmente, o segmento automotivo é liderado pela Continental e Bridgestone, com a fabricação de pneus.

Antes da saída da Ford de Camaçari, o Cofic estimava que o faturamento do Polo Industrial da Bahia era de mais de R$ 60 bilhões e o local gerava 45 mil empregos diretos e indiretos. Os números colocavam a cidade como o 15° maior Produto Interno Bruto (PIB) industrial do país.

O comitê afirma que trabalha para atualizar os dados após o anúncio do fechamento da montadora de veículos. Antes da saída da Ford, as vendas para o mercado externo correspondiam a 30% do total das exportações baianas.

O Complexo Industrial respondia ainda por mais de 90% da arrecadação tributária dos municípios de Camaçari e Dias D’Ávila e por cerca de 22% do PIB da Indústria de Transformação do Estado da Bahia, conforme dados do Cofic.

Fonte: G1