Após conclusão da reconstituição do caso da médica Sáttia Lorena Patrocínio Aleixo, que caiu do 5º andar de um prédio de Salvador, a Polícia Civil manteve o indiciamento do ex-companheiro da vítima por tentativa de feminicídio. O inquérito, que já tinha sido encaminhado ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), foi reenviado na sexta-feira (20).
O caso aconteceu na madrugada do dia 20 de julho. Segundo a polícia, o laudo da reconstituição concluiu que houve ameaças e agressões físicas do indiciado, o também médico Rodolfo Cordeiro Lucas, contra a ex-companheira, e revelou-se inconclusivo sobre queda da vítima.
O inquérito tinha sido encaminhado ao MP-BA no dia 3 de setembro. No entanto, com o laudo da reconstituição e o segundo depoimento de Sáttia, a polícia encaminhou novos documentos ao MP-BA, na sexta-feira (20).
O suspeito foi indiciado com base em demais provas componentes da investigação, como o depoimento da vítima e de testemunhas. Na segunda vez que foi ouvida pela polícia, Sáttia contou que Rodolfo Cordeiro Lucas disse que ia “acabar com a vida dela”.
Antes mesmo da conclusão do laudo de reconstituição a defesa de Rodolfo, representada pelo advogado Gamil Föppel, disse que o inquérito policial tinha vários erros e afirmou que a polícia criou um “imaginativo romance policialesco com delirantes e não comprovadas narrativas”.
Depois do segundo depoimento de Sáttia, o advogado disse ainda que “espera que o Ministério Público, titular da ação penal, guardião da Constituição, se ancore nos elementos de convicção colhidos, desprezando o desvairado relatório, promovendo, pois, por conseguinte, o arquivamento das investigações”.
Caso
O caso aconteceu na madrugada do dia 20 de julho, durante uma discussão do casal no prédio onde eles moravam, no bairro de Armação. No depoimento, Sáttia contou à polícia que Rodolfo estava segurando o pescoço dela, ameaçando cortar o rosto dela e dizendo que iria acabar com a vida dela.
Depois disso, Sáttia Lorena ficou em coma induzido. Rodolfo, companheiro de Sáttia, chegou a ser preso em flagrante pelo crime, mas foi solto por decisão judicial.
Durante a semana, antes da queda, Rodolfo teria dito que se ela terminasse o relacionamento, ele acabaria com a vida dela. Conforme consta no depoimento, Sáttia achou que fosse “brincadeira”. Ela ainda relatou que ao partir para cima dela, no dia da queda, ele repetia: “Eu avisei”.
Ela também revelou ter lembrado do momento em que estava na janela. Disse que teria gritado por socorro, falando que não queria morrer, e recordou que Rodolfo soltou a mão dela. Sáttia negou que tenha tentado suicídio, versão dada pelo suspeito.
Em depoimento na Delegacia de Atendimento Especial à Mulher (Deam), o médico Rodolfo negou que tenha jogado Sáttia do apartamento e disse que a médica se dopava e estava depressiva, versão negada pela família dela.
Ele disse à polícia que a médica se pendurou na janela do apartamento e que ele ainda tentou ajudá-la, segurando as mãos dela, mas mesmo assim ela caiu. Uma vizinha do prédio em que Sáttia morava antes de se mudar com o companheiro também relatou que relação do casal era marcada por brigas, e que chegou a ver a médica pedindo socorro.
A irmã de Sáttia disse, em depoimento à polícia, que a médica desabafou sobre humilhações que o médico a submetia. Jacqueline Aleixo afirmou que Rodolfo controlava as roupas de Sáttia e que ela teve que sair da academia de ginástica e desativar redes sociais por causa do ciúme do companheiro.
Imagens da câmera de segurança mostraram a médica Sáttia no elevador, horas antes de cair do quinto andar do prédio. No vídeo, é possível ver que a médica gesticulava bastante ao telefone, como se estivesse em discussão, por volta das 16h40 do dia 19 de julho.
Relacionamento abusivo
Também em depoimento, Sáttia disse à polícia que tinha um relacionamento abusivo com o médico. Rodolfo, segundo revelou, já a agrediu com puxões de cabelo, socos e já até esfregou um pano no rosto dela para retirar a maquiagem que ela usava.
Sáttia revelou à polícia que sofreu, no relacionamento, agressões psicológicas e físicas. Durante uma briga, ela disse que sofreu um corte ao ser empurrada por Rodolfo. Segundo ela, Rodolfo estava acostumado a usar medicamentos psicoestimulantes e antidepressivos, insistindo para que ela também os tomasse.
A médica contou também que não lembra do momento em que recebeu socorro do Samu, se apenas se recorda do momento em que já estava no Hospital Geral do Estado (HGE), primeira unidade onde recebeu atendimento.
Ao final do depoimento, ela disse que Rodolfo já falava para ela, antes mesmo da queda, que quem tem dinheiro no Brasil sai impune e não sofre as consequências dos seus atos. Informações do G1.