Raj Nair (53), foi demitido da presidência da Ford na América do Norte, dias atrás, após uma denúncia anônima recebida pelo canal de comunicação da multinacional além de uma decorrente investigação interna realizada por seu departamento de compliance. O CEO estava no cargo desde 2017.
O executivo de carreira que há muito vinha ascendendo profissionalmente na hierarquia da empresa: começou a nela trabalhar em 1987 como engenheiro, foi promovido para Diretor Técnico (Chief Technical Officer), depois para Diretor Global de Desenvolvimento de Produtos (Head of Global Product Development) até ser designado ao importante cargo de destaque já mencionado.
Em comunicado publicado pela própria empresa, a multinacional informou a demissão do alto executivo, mas, em relação à motivação para tanto, limitou-se a dizer que as investigações de seu departamento de compliance atestaram que ele teve ”um certo comportamento inadequado e desconforme com o Código de Conduta da Ford”.
Esse mesmo documento aberto trouxe algo relativamente incomum: a confissão também do próprio executivo envolvido. Mesmo que também extremamente vaga, o executivo afirmou se arrepender por, em certos casos, não ter agido em conformidade com as normas éticas da empresa.
Não há, assim, conhecimento do tipo de conduta antiética realizada pelo executivo e que motivou sua demissão.
Porém, é informação pública e notória que a mesma empresa, em outros contextos, celebrou dois acordos milionários com a EEOC3 (espécie de Ministério do Trabalho estadunidense) em meio a processos administrativos de responsabilização por condutas antiéticas (nesses casos, de assédio sexual e racial), o primeiro de U$ 22 milhões (nos anos 1990), e o segundo de U$ 10,125 milhões (no final do ano passado). No contexto deste último acordo, aliás, a empresa também publicou carta aberta assinada por seu presidente e CEO (Tim Hackett), na qual não houve expressa confissão/admissão da ocorrência dos casos investigados, mas se garantiu que todos os esforços e medidas necessárias seriam tomadas para prevenir qualquer tipo de conduta abusiva na empresa.
A primeira diretamente extraída do caso da demissão noticiada: esse é apenas mais um dos inúmeros exemplos que demonstram que nenhum funcionário deve pensar estar acima das normas internas de compliance. Não importa o grau hierárquico do cargo que desempenha no organograma da empresa: todos devem respeitar sempre as normas de integridade estabelecidas, bem como participar de todos os treinamentos desenvolvidos (já que tampouco a ignorância normativa deve a ele servir como argumento de defesa).
E, por fim, uma conclusão retirada dos demais casos de desvios éticos supostamente ocorridos na mesma empresa, relacionados a condutas de assédio sexual e preconceito racial: as empresas não devem restringir suas normas de compliance ”apenas” ao âmbito anticorrupção (compliance anticorrupção). Devem também, imprescindivelmente, cuidar muito bem do que costumo chamar de compliance social, ou seja, regramentos, atuações e treinamentos destinados especificamente a mitigar, fiscalizar e punir todo e qualquer tipo de assédio ou preconceito, seja ele moral, sexual, de gênero, racial, por abuso de poder ou qualquer outro. Informações do Bnews.