Estados Unidos e China discutirão no sábado, em meio a novas tensões entre as duas potências, a primeira fase do acordo assinado com grande alarde em janeiro que deveria marcar uma trégua na guerra comercial.
Na agenda: a espinhosa questão das compras de produtos americanos prometidas pela China, mas seriamente minadas pela Covid-19.
Não se trata de novas negociações, mas de uma reunião, prevista no acordo, para fazer um balanço da sua implementação, disse Chad Bown, pesquisador do Peterson Institute for International Economics (PIIE).
Uma fonte próxima às negociações confirmou à AFP que a reunião aconteceria no dia 15 de agosto. Ou seja, sete meses após a assinatura da primeira fase de um acordo comercial histórico entre os dois países.
No cerne do acordo de janeiro: a promessa da China de comprar US$ 200 bilhões em produtos americanos adicionais nos próximos dois anos.
Automóveis, máquinas industriais, metais, cereais, algodão, carnes, petróleo, serviços financeiros, etc, tudo isso para reduzir o déficit comercial americano, uma exigência de Donald Trump.
Mas essas promessas fracassaram e, no final de junho, apenas metade (46%) das compras previstas nesse período haviam sido realizadas, segundo dados do PIIE.
Novas frentes
“Poderemos falar de discussões bem-sucedidas se resultarem na modificação dos objetivos para níveis mais realistas”, segundo Bert Hofman, diretor do East Asian Institute de Singapura.
Mas isso “será politicamente difícil”, observa. Com a aproximação da eleição presidencial nos Estados Unidos, “o presidente Trump está apostando pesadamente no enfraquecimento da influência econômica chinesa”.
“Ao invés de mudar o acordo, ele pode preferir cancelá-lo pouco antes das eleições nos Estados Unidos”, estima Hofman.
O acordo assinado em janeiro também continha cláusulas relativas à proteção da propriedade intelectual e às condições de transferência de tecnologia.
Esse acordo, chamado “phase I”, abriria caminho para um “phase II”, sinônimo de intercâmbio comercial ainda maior entre os dois países.
Mas a pandemia de COVID-19, que Trump chama de “vírus chinês”, desacelerou brutalmente o comércio internacional e abriu novas frentes entre os dois países.
A rede social TikTok, da chinesa ByteDance, é acusada pelo presidente americano de ser utilizada pelos serviços de inteligência chineses. Donald Trump ameaça tornar o aplicativo inacessível nos Estados Unidos.
A situação em Hong Kong, território autônomo sobre o qual a China quer retomar o controle, também é um ponto de tensão.
No último episódio até agora, Donald Trump garantiu na quinta-feira que Hong Kong “nunca será capaz de prosperar” sob o controle da China e previu “uma descida ao inferno” para seus mercados financeiros.
O resultado desta reunião “indicará se as duas partes estão preparadas para manter este acordo, (e) se a relação se deteriorará ainda mais” ou não, antecipa Iris Pang, economista-chefe do ING na China.
No entanto, não prevê qualquer mudança, especialmente porque Donald Trump precisa do apoio dos agricultores para esperar ser reeleito.
Como a pandemia obriga, os negociadores dos dois países, o representante comercial americano Robert Lighthizer e o negociador chinês Liu He, vice-primeiro-ministro, se reunirão por videoconferência, segundo fontes citadas pela mídia americana. Contactado pela AFP, o Departamento de Comércio não confirmou a notícia.
Em contraste, Pequim disse nesta sexta-feira que os dois lados “devem trabalhar juntos para fortalecer a cooperação e superar as dificuldades juntos”.
“A China espera que o lado norte-americano acabe com as medidas restritivas e práticas discriminatórias contra as empresas chinesas e crie as condições necessárias para a implementação da primeira fase do acordo econômico e comercial”, disse o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian.
Em junho, o déficit comercial americano somente para compras de bens (sem contar serviços) com a China foi de US$ 28,4 bilhões.
As importações chinesas despencaram em fevereiro e março, quando fábricas fecharam na tentativa de conter a disseminação da Covid-19. Desde então, voltaram a subir. Da AFP.