Um levantamento do Ministério da Educação (MEC), divulgado na última semana por meio dos resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2023, revelou um dado alarmante: 17 dos 24 cursos de Medicina avaliados na Bahia obtiveram conceito 3 ou inferior — desempenho considerado regular ou insatisfatório pela escala de avaliação do MEC, que vai de 1 a 5.
Os dados estão disponíveis no portal oficial do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enade, e fazem parte do Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD) e do Conceito Enade, utilizados para medir a qualidade dos cursos superiores no Brasil.
📎 Fonte: MEC/Inep – Resultado Enade 2023: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/enade
Segundo o relatório, nenhum dos cursos com conceito 1 ou 2 pertence a universidades públicas, sendo todos vinculados a instituições privadas — muitas delas de pequeno porte ou recém-autorizadas a ofertar o curso. Entre as principais falhas estão a falta de hospitais-escola conveniados, deficiência na formação prática e ausência de docentes com titulação adequada.
“Estamos formando médicos, mas não estamos formando profissionais preparados para os desafios reais da saúde pública”, alerta a professora e médica sanitarista Ana Carla Meireles, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
A moratória na abertura de novos cursos, decretada pelo MEC em 2024, segue em vigor até 2027. A medida foi justificada justamente pela necessidade de “revisão dos critérios de qualidade e infraestrutura mínima” exigidos das instituições.
Entidades como o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) vêm pressionando o governo federal a adotar critérios mais rígidos para permanência dos cursos em funcionamento. Há um movimento crescente, inclusive, pela revogação de autorizações concedidas a instituições que não comprovem qualidade mínima de ensino.
“O impacto disso recai diretamente sobre a saúde da população, especialmente em regiões do interior, onde esses profissionais atuarão com pouca supervisão e recursos escassos”, afirma o médico e pesquisador Rogério Almeida, ex-conselheiro do CFM.
A crise silenciosa na formação médica da Bahia reflete um problema nacional: a banalização do ensino superior privado em áreas críticas como a saúde. Diante dos números, o MEC deverá intensificar as fiscalizações nos próximos ciclos, com foco na melhoria da qualidade, revisão curricular e adequação da infraestrutura.
Com informações do Correio 24 Horas