Fome atingiu 19 milhões de brasileiros em 2020, aponta pesquisa

Criança trabalhando no lixão na região metropolitana de Recife - Foto: Sérgio Pedreira

No ano passado, 19 milhões de pessoas foram atingidas pela fome. Logo após a redução do auxílio emergencial em 2020, uma pesquisa apontou que que mais de 116,8 milhões de brasileiros conviveram com algum grau de insegurança alimentar, representando 55,2% dos domicílios do país.

Os dados são do estudo conduzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), com apoio do Instituto Ibirapitanga em parceria com a ActionAid Brasil, da Fundação Friedrich Ebert Stiftung e da Oxfam Brasil.

A pesquisa foi realizada com 2.180 pessoas, em todas as regiões do Brasil, no período de 5 a 24 de dezembro. As amostras coletadas foram dos três meses anteriores e demostrou que 9% da população viveram a insegurança alimentar grave, o que significa que passaram fome.

A diminuição do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300 e de R$ 1.200 para R$ 600 (no caso de mãe solo) impactou bastante nos dados coletados. Em 2021, o benefício sofreu novo reajuste. Para pessoas que moram sozinhos, o valor será de R$ 150; e para famílias chefiadas por mulheres, R$375. A nova leva deve ser paga nos próximos dias.

O governo também foi mais seletivo na escolha dos beneficiários. A médica epidemiologista e pesquisadora da Rede Penssan Ana Maria Segall destacou que “a diminuição do auxílio emergencial e a falta de clareza sobre quem irá, de fato, recebê-lo, o país deve persistir num grave quadro de insegurança alimentar.”

“A forma com que os governos vêm lidando com as crises econômica e política dos últimos anos, sobreposta à pandemia da Covid-19, geraram impactos negativos profundos no direito humano à alimentação adequada e saudável do povo brasileiro”, completou.

Fatores adicionais

Além de associar a insegurança alimentar com o auxílio emergencial, a pesquisa ligou o aumento da fome com a cor da pela das pessoas. Assim, 10,7% da população preta ou parda enfrentam insegurança alimentar grave. O percentual das de raça/cor da pele branca ficou em 7,5%. Os dados se repetiram com outras categorias de insegurança alimentar.

Outro fato importante citado é que a classe média também foi atingida pela insegurança alimentar leve durante a pandemia. Em 2018, 20,7% dos domicílios que sofriam com o problema. Em dois anos, o índice subiu para 34,7%.

O coordenador da rede Penssan, Renato Maluf, afirmou, “era previsível que a comida, tanto sua disponibilidade como o acesso a ela, viessem a ocupar o centro das preocupações e urgências no contexto de pandemia pela qual estamos passando”. Informações do Metrópoles.