Mulheres vítimas de violência apontam problemas para prestar queixa; denúncias podem ser feitas na Defensoria Pública

Ilustração

Neste período de isolamento social, muitas mulheres vítimas de violência doméstica estão relatando dificuldades para prestar queixas contra seus agressores em delegacias especializadas em Salvador. Questionada, a Polícia Civil afirma que as delegacias estão funcionando com quadro reduzido devido à pandemia de Covid-19.

A dificuldade de conseguir atendimento é relatada por Priscila Melo, que tem uma medida protetiva contra o ex-companheiro, mas está preocupada, porque o prazo de validade do documento está acabando:

“Fui agredida em fevereiro de 2019, eu estava gestante na época. Eu fui na Deam [ Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher] de Brotas para dar queixa, mas a Deam não aceitou. Falou que eu tinha que dar queixa na cidade em que eu fui agredida. Como eu fui agredida em Lauro de Freitas, eu dei queixa lá na 27ª de Itinga. Eu estou com medida protetiva contra o meu ex-companheiro, a minha filha já nasceu. Só que, até hoje, a delegacia perdeu o meu BO [boletim de ocorrência], tenho quase um ano e meio nessa situação, e, com a pandemia, se agravou mais ainda. A gente se sente exausta, se sente desacreditada do poder público”, conta.

Outra vítima, que preferiu não se identificar, relatou que o medo do ex-companheiro faz com que ela fique presa dentro de casa e faça uso de medicamentos para lidar com a ansiedade:

“Eu convivi com uma pessoa por 15 anos, debaixo de pancadas, ameaças e outras coisas. Eu fui na Deam em Camaçari, e não deu jeito. Fui na delegacia em Monte Gordo, e não deu jeito. Eu hoje vivo presa dentro de casa, com um pau por dentro do portão, e com medo. Não estou dormindo, meu psicológico está abalado, choro o tempo todo, lembro das pancadas que ele me dava. Ele quis me matar com um martelo… Eu vejo martelo na minha cara, facão, tudo isso. Então a justiça tem que parar e ouvir mais as mulheres… Não é chegar lá e mandar de delegacia em delegacia e não dar em nada”.

Uma alternativa para as vítimas de violência doméstica é ligar diretamente para a Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE-BA), através do número 129, de segunda a sexta-feira, de 8h30 às 14h30. Nos finais de semana e feriados, quem está em Salvador pode conseguir atendimento através do número (71) 99913-9108.

Além disso, para a defensora pública Lívia Almeida, é necessário liberar o acesso à Delegacia Digital para as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Ela afirma que a liberação foi solicitada desde o dia 25 de março pela DP à Secretaria de Segurança Pública (SSP) e à Delegacia Geral da Polícia Civil:

“Desde o dia 25 de março, solicitamos o acesso à Delegacia Digital para as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Acreditamos que isso é uma medida que vai tornar o atendimento mais eficaz. Além disso, as mulheres não vão se expor ao risco. Também vai proteger as/os profissionais nas delegacias, que também estão expostos aos riscos de contaminação. […] Então a a gente faz um apelo à SSP e à Delegacia Geral da Polícia Civil que coloquem em prática, o mais rápido possível, essa ferramenta da Delegacia Digital”, reforça.

Sobre os dois casos citados, por meio de nota, a Polícia Civil disse que as delegacias da cidade estão funcionando normalmente, porém com quatro reduzido, pois há muitos policiais afastados por serem de grupos de risco ou terem sido diagnosticados com a Covid-19. A instituição diz, ainda, que os casos de violência contra a mulher apresentados serão apurados. Informações do G1.