O deputado federal Sargento Isidório (Avante), pré-candidato a prefeito de Salvador, é o entrevistado da semana na série de conversas do grupo A TARDE com os nomes que estão na corrida pelo Executivo soteropolitano. O parlamentar afirma que “não há a possibilidade” de se tornar vice em eventual chapa encabeçada pela major Denice Santiago, um dos nomes cogitados no PT. O pré-candidato também falou das suas bandeiras consideradas conservadoras e a relação com partidos progressistas ou do campo de esquerda. Durante a entrevista, Isidório diz esperar apoio do governador Rui Costa (PT), mentor da sua candidatura, com apoios partidários e infraestrutura de campanha.
Acompanhe a entrevista completa a seguir:
Deputado, caso eleito o que terá como meta principal de governo?
Minha meta principal de governo é a educação. Abaixo de Deus, só vamos consertar essa nação com a educação. A gente precisa de cursos técnicos, cursos tecnológicos. Pode passar lá na BR-324, são três prédios grandes da Fundação Doutor Jesus, e nós estamos construindo o quarto prédio, que é onde será a segunda maior escola técnica da Bahia com cursos gratuitos profissionalizantes, para que em vez de eu receber drogado para recuperar, eu receba meninos e meninas ainda sem usar droga, porque é melhor educar do que recuperar. Aí vem a questão de creche, você precisa investir, botar para funcionar a saúde, não é maquiar, pintar e inaugurar e deixar lá fechado. Pegar os postos de saúde, pegar as UPAs e botar funcionando verdadeiramente. Principalmente, utilizando mão de obra qualificada, e não é com as terceirizações que bota um profissional para fazer o serviço de três, quatro, ganhando salários indignos. É abrir espaço para botar profissionais que estão desempregados. Tem a questão do emprego, de renda, que é outro calcanhar de Aquiles grande. Você está vendo que a cada hora não consegue andar nas ruas de tantos vendedores ambulantes, todo dia aumenta os vendedores e as vendedoras ambulantes, e isso é o desemprego, a falta de perspectiva de renda. O primeiro ponto é a educação, depois vem a questão da saúde, depois segurança pública atrelada, porque sem segurança, hoje, não se vive. Essa história de que segurança é dever só do Estado, eu não concordo e pretendo bulir na Constituição. Segurança pública é uma obrigação de todos nós, principalmente os prefeitos. Porque o prefeito é que sabe onde está a gangue, ele que sabe quem chegou na sua cidade, no seu bairro e está lá traficando droga.
Você é representante da base do governador Rui Costa e quero saber a sua opinião sobre essa pulverização de candidaturas no grupo. Ajuda ou atrapalha na disputa? Ou você acha que o objetivo mesmo desse bloco para esse primeiro momento deva ser pulverizar para levar as eleições para o segundo turno coisa que, segundo os bastidores, é o que o prefeito ACM Neto e seu candidato não desejariam?
A estratégia política, cada um tem uma. Então, não adianta eu querer me envolver com o que está na cabeça do governador, nem na cabeça do Neto. Eu sou marqueteiro de mim mesmo. Toda a minha vida política, o meu filho, o deputado pastor João Isidório, a família, e alguns amigos, pessoas humildes, me ajudam. Para mim, quanto mais candidato melhor. Eu não tenho nenhum problema, até porque a democracia é feita com oportunidades e escolhas. Eu acho que você precisa dar condições a uma terceira via, quarta via, quinta via. Para mim, quanto mais candidato melhor. Uma piscina quando ela está suja, você as vezes deixa decantar para escolher a água limpa, é esse o processo. O povo de Salvador precisa ouvir os debates, precisa tomar cuidado com as fake news, como já está aí dizendo que eu sou vice da candidata do PT, não tem essa possibilidade. É fake news. Toda hora vai ter fake news, mentiras. Eu sou adepto de que quanto mais candidaturas, melhor para que as pessoas tenham condições de ouvir, de analisar melhor os seus candidatos, a vida, a história. Porque ninguém chega na política do nada. O meu caso mesmo, eu venho de sindicalismo, eu venho de movimentos denunciando a falta de direitos humanos dentro da polícia em 2001. O movimento de 2001 não foi dinheiro, é porquê os policiais estavam sendo humilhados por oficiais lá dentro, pelo governo lá dentro, era outra época. Hoje, isso mudou. Hoje, tem direitos humanos. Quando você está maltratando policial dentro do quartel, você está preparando um mau policial para a rua, e quem sofre é o cidadão.
Em relação a major Denice Santiago, você já sinalizou que não existe a possibilidade nesse momento de ser vice dela, mas você a vê como uma possível concorrente, já que vocês abraçam também a Polícia Militar, são representantes desse segmento? Eu queria que você falasse também se, no futuro, é possível essa união, já que se falam que vocês dois têm respeito e credibilidade dentro da corporação. Isso não deixaria o eleitorado militar dividido?
Eu respeito todas as candidaturas. Eu respeito a candidatura de Bacelar, de Olívia Santana, de Lídice da Mata, de Eleusa Coronel. Eu já tenho um tempo na luta, tem que olhar os calos da mão, os calos do sapato, o tempo que eu faço política, defendendo a cidadania, defendendo a democracia. O tempo que eu tenho de luta com partidos progressistas, o chamado partido de esquerda, embora as cúpulas desses partidos preguem contra a discriminação e discriminam o negro Isidório, o chamado doido Isidório. Se eu fosse doido, eu rasgava dinheiro, comia aquele bicho fedorento chamado fezes, eu dava cacetada, eu jogava pedra. Eu sofro muito preconceito, principalmente por parte da cúpula desses partidos de esquerda que eu ajudei muito. Agora eu não concordo com algumas bandeiras deles. Quando se fala da certa família da tradicional, eu não abro mão de algumas coisas. Então eu sou contra o aborto, eu acho que a gente tem que socorrer a pessoa que assassinou um filho. O aborto é assassinar crianças. Uma coisa é acidentar, a pessoa teve um acidente. Mas mesmo estas que equivocadas por falta de estrutura social familiar, até de educação, assassinam uma criança e chamam de aborto simples, precisam cuidar da saúde. Mas eu não posso estimular, é Deus que dá a vida. Sou contra a questão de liberação de drogas, porque é muito fácil algum grupo lá em cima querer liberar drogas, mas por que não bota na mesa, na sua sala e não chama a família: ‘vamos drogar’. Só sabe o que é maconha, o que é droga, quem tem um filho drogado. Aí alguém diz ‘não, mas a maconha é medicamento’. No caso de ser medicamento, a gente aceita se for prescrito pela medicina, mas liberar para todo mundo plantar no fundo do quintal e os nossos filhos acharem que é comum, eu não posso. Eu também não tenho como ir no jogo de ensinar as nossas crianças de que menino pode ser menina, e menina pode ser menino. Não tem jeito, isso não vai colar comigo. Aí eu fico sendo discriminado, eu sofro preconceito por cúpulas de partidos de esquerda. Eu sou pré-candidato a prefeito, e quando você vai administrar coisa pública, não pode ter religião. Você tem que respeitar as pessoas afrodescendentes, eu já bati muito tambor no candomblé, já dancei, já manifestei. Tem que respeitar o espírita, onde lá no copo de água vê Cristo. Já estive com a minha prima no centro espírita. Você tem que respeitar os católicos que são cristãos, quem nos une é o Cristo, tem que respeitar todo mundo.
Deputado, os evangélicos se tornaram uma força política considerável. Um grupo que sempre relata casos de preconceito por parte de movimentos da esquerda. Esse público, inclusive, se alinharam à direita com a eleição de Jair Bolsonaro com uma agenda conservadora. Em Salvador, o seu nome tentará atrair esse público evangélico para a base da esquerda e centro-esquerda que você representa?
Foi por causa desse preconceito e desrespeito aos cristãos, não só aos evangélicos, mas também aos cristãos católicos, que elegeram o presidente que está aí. Um presidente que dá banana para a imprensa, desrespeita a imprensa, que é responsável pela democracia dessa nação. Foram estes partidos que não respeitam os cristãos, não respeitam a fé de ninguém. Foram eles que geraram o presidente que está aí. Então, eu não pretendo puxar os evangélicos cristãos, sejam católicos ou evangélicos, nem para esquerda, porque eu já tenho minhas decepções, e nem para a direita, porque eu também estou vendo as decepções. Todo extremo é muito ruim. Radicalismo é ruim, não adianta uma esquerda radical, nem uma direita radical, que pode fazer enfrentamento e derramamento de sangue. O que eu estou vendo aí com essas lideranças da direita ou da esquerda, é um potencial enfrentamento de jovens, pessoas que não conhecem nem da política, que viram quase massa de manobra. A minha proposta de candidatura é agregar todo mundo, agregar quem está solto, desagregado na sociedade, são os ambulantes, os que estão desempregados, sem escola, as mães querendo trabalhar e não encontram creche. Eu penso que eu não sou esquerda e não sou direita, também não sou mais centro-esquerda, nem centro-direita. Eu estou só Jesus, eu estou só o pai, o filho, o espírito santo, e chamando a todos para buscarmos a paz, para darmos as mãos para que possamos projetar um futuro melhor, mais humano para o povo carente de Salvador.
O deputado não participou de algumas festas populares de Salvador como Iemanjá e Lavagem do Senhor do Bonfim, mas esteve no carnaval. Ocasião, inclusive, que protagonizou uma situação com o cantor Márcio Victor. Qual o motivo da presença de um pastor evangélico no carnaval?
Como pastor, eu não sou melhor do que ninguém. Quem sabe da minha história de 26 e 27 anos atrás, sabe que eu era um lixo, eu desobedeci meu pai, minha mãe, e todo filho desobediente, que não respeita professores, não trata a sua escola bem… no passado, a gente aprendeu que professor é o nosso segundo pai, uma segunda mãe. A escola é a nossa segunda casa. Eu fui para o primeiro gole de cerveja, de vinho e virei alcoólatra. Fui para o primeiro cigarrinho, para a maconha, e virei drogado. Perdi o caráter, caí dentro do homossexualismo. Por causa das drogas, fui planejar assalto ainda dentro da PM, desrespeitei os meus colegas, os praças e os oficiais. Nem estes sabiam do sofrimento que eu tinha, mas eu encontrei a palavra de Deus. As placas na minha mão diziam assim ‘Jesus te ama, e quer te salvar’. Era isso que o cabo eleitoral Márcio Victor, que estava na frente dos dois patrões dele, deveria entender. Nenhum outro trio, durante os cinco ou seis dias que eu participei… pelo contrário, fui muito homenageado, tiveram trios que pararam, trios de afoxé, eu fui homenageado pelo Gandhy, Ilê Aiyê, Muzenza. Só o cabo eleitoral, que estava com a presença dos dois patrões dele, que resolveu fazer aquele desserviço, quase insuflar um linchamento contra a minha pessoa. Eu poderia até acioná-lo judicialmente pelo risco que ele colocou até a minha própria vida, mas graças a Deus que as pessoas que estavam atrás daquele trio são jovens, homens e mulheres, pai de família equilibrados que diziam ‘calma, pastor’.
Alguma sugestão de mudança para o formato do carnaval de Salvador?
Tem fake news sendo espalhada dizendo para que não votem em um evangélico, que ele vai acabar com o carnaval. Pelo contrário, eu já estou discutindo com os carnavalescos sobre a questão de ampliar o sistema, de um novo circuito. Estou estudando com o pessoal de engenharia essa possibilidade. No primeiro ano, eu não vou poder fazer isso, porque eu vou ter que encontrar as coisas mais ou menos prontas, não tem tempo para você em cinco meses preparar a estrutura de um carnaval. Eu estou estudando para a Paralela, para o lado do CAB, para ver se a gente faz um novo circuito.
Você tem figurado nas primeiras posições nas pesquisas eleitorais na corrida pela prefeitura de Salvador. No entanto, tem reclamado de que não tem recebido o reconhecimento que as pesquisas indicam. Você acha que se a esquerda se mobilizasse para ter um bloco em torno do seu nome nesse primeiro momento, para ganhar corpo em eventual segundo turno, seria um caminho viável, conforme as pesquisas?
Quem é que não gostaria de ter um corpo melhor de campanha? De ter um partido ou dois com mais estrutura, tempo de televisão, infraestrutura de televisão? Esse meu perfil de teatrólogo, folclórico, polêmico, é muito até para me ajudar para que as pessoas me ouçam. Não fosse esse apelido de doido, o povo não me conheceria e eu não estaria na casa dos 175 mil votos em Salvador, o mais votado da história da cidade. Não pense que quem votou em mil é doido, maluco, drogado. Tenho pessoas da alta sociedade que votam em mim. Com tempo de televisão, eu não vou precisar estar com a Bíblia dançando, cantando. Em 2016, eu fui chamado para ser candidato e, do meio para o fim, todos os partidos de esquerda e sindicatos apoiaram a candidata Alice Portugal, nossa amiga maravilhosa. Eu fiquei em cima de uma caminhonete com Bassuma, cantando no sol quente, na chuva. Esperar que hoje vá mudar alguma coisa, acredito muito na dignidade e lisura do governador, na postura que tem tido até agora. Quem me botou nesta história de ser prefeito, quem criou este maravilhoso cenário foi o próprio governador Rui Costa. Então, eu duvido que ele não vá arrumar um partido, ajudar a providenciar alguém para a minha vice. Se tiver uma estrutura melhor de campanha, você vai me ver suar menos, vou dançar menos, vou fazer menos teatro, menos folclore. Se não tiver, prepare-se para me ver dançar, cantar, pular, lutar capoeira. Se alguém ficar esperando que vai ter partido grande me apoiando, que vai vir empresário… não esperem isso, porque nos meus três mandatos de deputado, eu nunca tive apoio de vereador, de prefeito.