Para afastar o risco de apagão em 2022, ano de eleição, o governo federal decidiu concentrar sua estratégia na expansão da energia termelétrica, em detrimento de investimento em fontes renováveis.
A consequência desta escolha é que, pelo menos até 2025, o consumidor acabará enfrentando custos mais elevados pelo serviço, e a matriz energética terá uma participação maior de fontes mais poluentes.
De acordo com informações do jornal O Globo, estudos e simulações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), também formado pelo Ministério de Minas e Energia, apontam que o acionamento das térmicas entre janeiro e novembro de 2021 custará R$ 13,1 bilhões.
O montante será compensado na conta de luz, e até 2026, estão previstos investimentos de R$ 12 bilhões em usinas térmicas no País.
A pasta de Minas e Energia realizará um leilão no próximo mês de outubro, em processo simplificado, para a aquisição adicional de energia, com prazo previsto para abril de 2022 a dezembro de 2025 e possibilidade de entrega antecipada.
Também segundo o jornal, isso é necessário para recompor o nível dos reservatórios das hidrelétricas. Contudo, o impacto na conta de luz deverá ser ainda maior.
Poderão participar do leilão térmicas a gás com custo de até R$ 750 por megawatt-hora (MWh) e a óleo diesel e óleo combustível de até R$ 1 mil/MWh.
O valor é mais elevado que o de leilões anteriores, mas o governo argumenta que o “prazo desafiador” para entrada em operação resulta em custo mais alto, e aposta que ampliar a concorrência possa segurar os preços.
Para efeito de comparação, em agosto, o preço de referência do leilão para térmicas foi de R$ 266,86/MWh. No Ambiente de Contratação Regulada, onde as compras se dão por leilões, despacho do ano passado definia o valor médio em R$ 253,50/MWh para 2021.
Fontes renováveis, como eólica e solar, têm preço médio de R$ 150/MWh. A estratégia vai manter o patamar da produção de energia termelétrica acima da casa dos 20% por mais tempo.
Atualmente, ao menos 19 unidades novas usinas térmicas estão sendo construídas no Brasil, e outras estão sendo reformadas, religadas ou adiantadas.
Só as usinas em construção vão adicionar 5.080MW ao Sistema Interligado Nacional até 2026. Neste período, estão previstos investimentos de R$ 12 bilhões em usinas térmicas no País.
Desse total, pelo menos R$ 4 bilhões serão utilizados no retrofit de unidades antigas. A maioria das novas usinas térmicas vai operar com gás, especialmente do pré-sal, como fonte de energia.
Dados do ONS apontam que em julho, o Brasil registrou recorde na geração de energia por usinas termelétricas e a menor produção por hidrelétricas para o mês desde 2002.
Segundo a entidade, as termelétricas geraram 18.625 megawatts-médios (MWmed) em julho de 2021, maior patamar histórico e o dobro do verificado em março – 9.341 MWmed.
Na avaliação do diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, a recomendação é que as termelétricas, mesmo mais caras, continuem ligadas no chamado período úmido – entre novembro e abril – e em 2022. Com isso, ele avalia que o país fará uma “poupança” nos reservatórios. Via Bnews.