Paz com Kosovo gera expectativa de amplo acordo entre Israel e árabes

Pandemia, conflitos ideológicos, atos racistas e recrudescimento do antissemitismo em alguns locais. O ano de 2020 desenhava-se como um dos mais difíceis dos últimos tempos. Mas algo inimaginável começou a se consolidar no segundo semestre, como um aceno de esperança em dias melhores.

Apesar de todas as dificuldades, os últimos dias têm mostrado que um caminho de paz finalmente pode estar se abrindo no turbulento Oriente Médio.

Um passo para isso foi a assinatura de um acordo entre Israel e Emirados Árabes.

Outro, foi a abertura de relações diplomáticas entre Israel e Kosovo, cuja população é de maioria islâmica (cerca de 92%).

Dois acordos em menos de um mês, após longos anos. Tais iniciativas geram expectativas para uma conciliação de Israel com todos os 22 países árabes em um futuro próximo.

No último dia 31 de agosto, em conversa com com a agência de notícias dos Emirados Árabes Unidos, WAM , o negociador americano, Jared Kushner, afirmou acreditar que há totais condições de Israel ser reconhecido pelos 22 países da região.

Ele acabara de se reunir com o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos), Anwar Mohammed Gargash e com o conselheiro de Segurança Nacional israelense, Meir Ben-Shabbat. E quando perguntado sobre as chances de isso acontecer um dia, o americano foi direto.

“100 por cento”, afirmou. E completou.

“Acredito que seja lógico para eles (países árabes) fazerem isso e acredito que seja a coisa certa a fazer ao longo do tempo”.

Kushner é genro do presidente Donald Trump e conselheiro sênior da Casa Branca.

Na ocasião, ele antecipou que mais um país de origem muçulmana iria assinar um acordo com Israel, na semana seguinte.

Foi o que aconteceu. Israel assinou um novo acordo, este com Kosovo, uma região predominantemente islâmica, que fazia parte da antiga Iugoslávia e que obteve sua independência.

Em 2008, Kosovo declarou sua independência em relação à Sérvia e é reconhecido como país por nações como  os Estados Unidos, França, Alemanha, Dinamarca e Turquia.

Assim como a Sérvia, que já mantinha laços diplomáticos com Israel, Kosovo também reconheceu Jerusalém como capital israelense.

Paz duradoura

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gabi Ashkenazi, afirmou em nota que essa convergência de iniciativas pode ajudar em um entendimento entre Sérvia e Kosovo, cuja independência não é reconhecida pelo país báltico.

“Vemos a decisão da Sérvia e do Kosovo de estabelecer embaixadas em Jerusalém como um passo simbólico para a promoção da paz entre esses países. A cidade de Jerusalém, a capital eterna do Estado de Israel, constituirá uma ponte de paz para o mundo inteiro. Peço a outros países que sigam seus passos e mudem suas embaixadas para Jerusalém, a capital de Israel.”

A possibilidade de uma paz duradoura pode ser ainda mais atraente pelo fato desta união, amparada em um grande bloco de nações árabes, ter tudo para ajudar a solucionar boa parte da questão palestina e isolar grupos considerados terroristas, como o Hezbollah, e países reticentes a um diálogo com Israel, como o Irã.

Não, não se trata de um devaneio otimista e ingênuo. Muitos contextos foram modificados em função de questões estratégicas e financeiras. Elas têm impulsionado esses novos tempos, também em função da crise econômica gerada pela pandemia. E da redução, ainda que incipiente, da importância do petróleo, principal recursos dos países na região.

Os Estados Unidos, aliados de Israel, então, aproveitaram a importância e o fato de terem inclusive ultrapassado a Arábia Saudita como maiores produtores de petróleo no mundo, para barganhar com várias nações.

Intercâmbio comercial

Some-se a isso, a vasta gama de produtos que são comercializados pelo país, inclusive armamentos. Temerosa em relação à ameaça iraniana, a Arábia Saudita, por exemplo, busca na segurança militar uma forma de não perder sua influência regional.

Um fator decisivo que levou Israel a se aproximar de acordos de paz com os árabes foi a inclusão do país, após sofrer muitas pressões e não ser aceito por muitos anos, como membro da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em maio de 2010. Pode-se ver hoje que aquele momento, além da questão comercial, foi uma vitória diplomática.

Já um entendimento com Israel também seria vantajoso do ponto de vista comercial para muitos países árabes. A tecnologia israelense em gestão de água se encaixa aos planos dos governos destas nações, em geral localizadas em regiões desérticas.

Além disso, haveria investimentos, além do intercâmbio comercial de máquinas e equipamentos, softwares, cibertecnologia, diamantes lapidados, técnicas de novas matrizes energéticas, produtos agrícolas, saúde digital e remota, projetos espaciais, turismo, produtos químicos, têxteis e até mesmo de petróleo. Informações do R7.