População em situação de rua aumenta durante a pandemia

Foto: Evandro Veiga/CORREIO*

O aumento da população em situação de rua em Salvador após o início da pandemia é consenso entre lideranças que atuam com esse público e gestores. Para a coordenadora do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR), Sueli Oliveira, o crescimento desse grupo salta aos olhos. Ela lembra que o último censo Suas (Sistema Único de Assistência Social) indicou cerca de 8 mil pessoas vivendo nestas condições na capital baiana.

Um levantamento nacional feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em março do ano passado localizou 222 mil brasileiros em situação de rua, mas o relatório divulgado em junho já ressaltava a tendência de crescimento. Embora não seja específico para pessoas sem moradia, em outubro de 2020, o Cadastro Único registrava 14 milhões de famílias em extrema pobreza, um acréscimo de 1,3 milhão sobre o número de janeiro de 2019.

Sob a marquise de um prédio abandonado na Rua Cônego Pereira, onde A TARDE esteve no final de novembro de 2019 e também na última terça-feira, o aumento do número de tendas montadas para abrigar moradores é claro. “A pandemia, de alguma forma, conseguiu quebrar a invisibilidade da população em situação de rua e mostrou que a sociedade ainda ignora essa população”, avalia Sueli.

A coordenadora do MNPR afirma que estudos têm apontado uma mortalidade pelo menos cinco vezes maior quando a Covid é adquirida por pessoas em situação de rua, quando comparada com a população geral. “Precisamos dos números de adoecidos, do número de óbitos e que essa população seja público prioritário para a vacinação”, defende.

O crescimento da população de rua em Salvador após o início da pandemia também foi notada pela coordenadora da Pastoral do Povo de Rua, Gilcilene Pereira Silva. Ela cita pessoas que eram atendidas por eles e trabalhavam nas ruas, mas conseguiam alugar um quartinho para dormir, mas com o fechamento de espaços e serviços ficaram sem qualquer fonte de renda.

Município

Recém-empossado na Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre), Kiki Bispo ressalta que a pandemia gerou uma crise econômica que agravou as questões sociais. “Foi verificado esse aumento. Teve gente que perdeu emprego, gente que migrou para Salvador em busca de emprego, pessoas que dependiam de idosos que faleceram e ficaram em vulnerabilidade social”, detalha.

Bispo aponta acréscimo na procura pelos serviços ofertados pela pasta, o que levou à abertura dos restaurantes populares que funcionaram de abril a novembro no estacionamento São Raimundo, Barroquinha e Itapuã. Permanecem abertos em Pau da Lima e São Tomé de Paripe, com 350 refeições gratuitas por dia, em cada unidade.

O secretário garante que os números da pandemia e as consequências do fim do auxílio emergencial do governo federal estão sendo acompanhados e os restaurantes temporários podem ser reativados. Com a prorrogação do Salvador Por Todos, ele destaca que as equipes de abordagem social identificaram cerca de 450 pessoas em situação de rua com perfil para receber o benefício de R$ 270 em janeiro, fevereiro e março.

As equipes de abordagem social, segundo Bispo, também serão responsáveis por identificar as pessoas que se enquadrem nos grupos prioritários para vacinação, pois não há nada específico para essa população no Plano Nacional de Imunização. Quanto ao levantamento de casos reivindicado pelo MNPR, a Sempre informa que não há previsão nesse sentido.

Atualmente, a Sempre conta com duas Unidades de Acolhimento Institucional de administração direta e dez geridas por entidades parceiras. Além disso, a cidade tem quatro Unidades de Acolhimento Emergencial, quatro Centros Pop e doze equipes de abordagem social.

Programa

“Sem dúvida houve um aumento significativo do quantitativo de pessoas vivendo em contexto de rua”, considera a diretora da Superintendência de Políticas sobre Drogas e Acolhimento a Grupos Vulneráveis da Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado, Emanuele Silva. À frente do programa Corra pro Abraço, ela observa que houve também a saída voluntária de pessoas abrigadas, por medo de contágio com a Covid-19.

Com foco no atendimento de adolescentes e jovens, o Corra tem como pontos centrais os bairros de Plataforma, Nordeste de Amaralina, Fazenda Coutos e Beiru/Tancredo Neves. Embora as oficinas e rodas de conversa tenham sido suspensas nos primeiros meses da pandemia, foram retomadas a partir de setembro de 2020, informa Emanuele.

O programa oferece ainda contêineres nos Mares e na vizinhança da Arena Fonte Nova para os frequentadores tomarem banho e buscarem escuta qualificada.

Fonte: Portal A Tarde