O governo da Bahia foi indenizado em R$ 2,15 bilhões pela Ford por causa do fechamento, em janeiro deste ano, da planta industrial em Camaçari, na região metropolitana de Salvador. A indenização foi resultado de um acordo entre as partes.
A Ford informou que não vai se posicionar sobre o assunto. Conforme apurado pelo G1 com fontes do governo baiano nesta sexta-feira (18), o documento é um termo aditivo ao contrato firmado entre as partes em 2014, quando a empresa se comprometeu a realizar investimentos no Complexo Industrial Ford, em Camaçari, em contrapartida às ações de fomento e financiamento de capital de giro criadas pelo estado.
Com a decisão da Ford por fechar o complexo em definitivo, os benefícios foram o parâmetro das negociações para chegar ao valor da indenização devida pela empresa, acrescido de correção monetária.
No acordo, conforme as fontes do estado, a Ford afirmou que vem trabalhado em estreita colaboração com todos os parceiros de negócio no desenvolvimento de um plano para minimizar os impactos do encerramento da produção, incluindo sindicatos, fornecedores e distribuidores.
A empresa reiterou a permanência na Bahia do Centro de Desenvolvimento de Produto, que passará a prestar serviços de pesquisa, desenvolvimento e engenharia automotiva predominantemente ao exterior, preservando não só mão de obra na região como também uma sólida parceria com universidades e centros de pesquisa regionais.
Fechamento da Ford no Brasil
Trabalhadores da Ford em protesto contra fechamento de fábrica em Camaçari, na Bahia — Foto: Reprodução/TV Bahia
A montadora anunciou no dia 11 de janeiro o encerramento das suas atividades no Brasil após um século. Na Bahia, a Ford estava sediada em Camaçari, na região metropolitana de Salvador.
A empresa, que fechou 2020 como a quinta que mais vendeu carros no país, com 7,14% do mercado, continuará comercializando produtos no Brasil.
Em comunicado divulgado à época do anúncio, a fabricante disse que a decisão foi tomada “à medida em que a pandemia de Covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”.
A montadora citou também a recente desvalorização das moedas na região, que “aumentou os custos industriais além de níveis recuperáveis”, e mencionou a pandemia e a ociosidade nas linhas de produção, “com redução nas vendas de veículos na América do Sul, especialmente no Brasil”.
Desde então, acordos com várias categorias e empresas terceirizadas têm sido formalizados. No entanto, protestos foram realizados, com profissionais discordando das posições das empresas e da própria montadora após o desligamento e encerramento do serviço na companhia.
Negociações na Bahia
No dia 5 de fevereiro, a Justiça do Trabalho concedeu uma liminar que suspendia a demissão coletiva de funcionários da fábrica de Camaçari. A decisão proibia demissões até que o acordo entre a empresa e os funcionários fosse encerrado.
No dia 23 de fevereiro, cerca de 700 funcionários da Ford retornaram aos postos de trabalho, em Camaçari. A retomada foi, inicialmente, por 90 dias e aconteceu depois de negociações entre o sindicato da categoria e a empresa.
Na época, ficou decidido também que outros 327 trabalhadores retornariam em março, 189 em abril e 31 funcionários seriam convocados em maio.
Em março, outra decisão judicial suspendeu o desligamento de empregados da Ford que atuam em funções de liderança e supervisão, na fábrica de Camaçari. A informação foi divulgada pelo Ministério Público do Trabalho (MTB-BA), no dia 29, data em que as demissões iriam ser realizadas.
A decisão também afetava as empresas que forneciam insumos para a montadora e estão instaladas no complexo industrial no município baiano.
Economia
A cidade que abriga o maior Polo Industrial da Bahia, Camaçari pode ter perda de 10% na arrecadação de receitas após o encerramento das atividades da fábrica Ford no Brasil.
O Polo Industrial de Camaçari completa neste mês de junho, 43 anos de operação. Um dos maiores complexos industriais integrados do Hemisfério Sul, desempenha papel importante no setor produtivo do estado.
Em entrevista ao G1 em janeiro deste ano, o prefeito de Camaçari, Elinaldo Araújo, contou que a cidade, que tem arrecadação anual de cerca de R$ 1,3 bilhão em impostos, perdeu R$ 30 milhões do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e mais R$ 100 milhões do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da receita líquida com o fechamento da montadora de veículos.
Na ocasião, o prefeito Elinaldo informou que estava em busca de levar outra empresa do ramo automobilístico para a cidade. O governador da Bahia, Rui Costa, também afirmou procura pela Embaixada da China para sondar investidores para assumir negócio no estado. No entanto, ainda não nenhuma confirmação ou algo definido sobre o assunto.
Além da perda de receita, o município vai registrar mais de 12 mil demissões. O gestor municipal também lembrou das pessoas que não trabalham em empresas relacionadas com a Ford, mas prestam serviços para os funcionários, como escolas, restaurantes e lojas do comércio local.
Diante do fechamento da fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia, a produção industrial baiana registrou em abril o maior recuo do país em relação ao mesmo mês de 2020, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Polo Industrial
O maior Polo Industrial da Bahia foi instalado em Camaçari há 42 anos e aposta em tecnologia de ponta para se destacar no mercado. Segundo o Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), o faturamento era de mais de R$ 60 bilhões e gera 45 mil empregos diretos e indiretos.
Os números colocavam Camaçari como o 15° maior Produto Interno Bruto (PIB) industrial do país. O Cofic afirma que trabalha para atualizar os dados após o anúncio do fechamento da montadora de veículos.
Antes da saída da Ford, o polo tinha um faturamento anual de aproximadamente US$ 15 bilhões e as vendas para o mercado externo correspondiam a 30% do total das exportações baianas.
O Complexo Industrial respondia ainda por mais de 90% da arrecadação tributária dos municípios de Camaçari e Dias D´Ávila e por cerca de 22% do PIB da Indústria de Transformação do Estado da Bahia, de acordo com dados do Cofic.
As principais linhas de aplicação dos produtos petroquímicos e químicos são os plásticos, fibras sintéticas, borrachas sintéticas, resinas e pigmentos. Após transformados, os produtos químicos e petroquímicos resultam em embalagens, utilidades domésticas, mobiliário, materiais de construção, vestuário, calçados, componentes industriais (indústria eletrônica, de informática, automobilística e aeronáutica), tintas, produtos de limpeza (detergentes), corantes, medicamentos, fraldas, absorventes higiênicos, defensivos agrícolas e fertilizantes.
O Polo Industrial de Camaçari fabrica também automóveis, pneus, celulose solúvel, cobre eltrolítico, produtos têxteis (poliéster), fertilizantes, equipamentos para geração de energia eólica, bebidas, dentre outros, oferecendo ainda ampla gama de serviços especializados às empresas instaladas em sua área de influência. Informações do G1.