Presidente do Conselho de Economia estima queda no PIB da BA, mas vê 2021 com otimismo: ‘recuperação lenta e gradual’

A pandemia de coronavírus acarretou em efeitos econômicos em várias partes do mundo, e na Bahia não será diferente. Mesmo com um resultado positivo no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruno (PIB) do estado deve fechar 2020 em queda.

Segundo a projeção do presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-BA), Gustavo Pessoti, o PIB de 2020 deve ficar negativo entre 5,8% e 7,6%. A real definição da taxa depende da evolução da pandemia e de como os setores vão responder quando puderem voltar a atuar com a flexibilização das atividades.

Pessoti conta que em março, quando a pandemia ainda estava no início, realizou uma leitura que previa para o ano um crescimento próximo a zero ou com retração entre 3,5% e 5%. Porém, a extensão dos efeitos do coronavírus fez com que o economista reavaliasse a projeção em três cenários: um mais otimista, outro intermediário e um pessimista.

Para estabelecer os cenários, o presidente do Corecon-BA partiu do PIB do primeiro trimestre do estado, que ficou em 0,3%. Assim, ele passou a analisar as possibilidades. Na mais otimista, há uma queda no segundo trimestre, com queda menor no terceiro e recuperação já nos últimos três meses de 2020, o que deixaria o PIB do ano negativo em cerca de 5,8%.

Shoppings da capital baiana estão fechados desde março e só podem funcionar na modalidade drive thru — Foto: Reprodução/TV Bahia
Shoppings da capital baiana estão fechados desde março e só podem funcionar na modalidade drive thru — Foto: Reprodução/TV Bahia

Já na intermediária, com o PIB negativo em torno de 6,5%, o processo de recuperação seria adiado para o início de 2021. Na avaliação mais pessimista, a economia baiana só conseguiria se recuperar no segundo trimestre do próximo ano, e o PIB de 2020 ficaria negativo em 7,5%.

Na avaliação de Pessoti, o cenário intermediário é o mais provável de ocorrer, já que a agropecuária, com ano de boa produção, e alguns setores podem conter uma queda mais forte.

“Há muita incerteza. Se você me perguntasse, eu ficaria no meio do caminho. Acho que teremos um cenário moderado. A administração pública é muito pesada no PIB da Bahia, pouco mais de 20%. A administração pública deu positivo no primeiro trimestre, significa que o poder público esteve todo movimentado pela pandemia”, disse.

“Por mais que não se tenha toda a execução orçamentária realizada, dar positivo significa frear a taxa negativa da economia. Temos 7% ou 8% da agropecuária, estou falando de 30% da economia crescendo. Terei ainda alguns setores soltos que podem ter taxa de crescimento baixa ou negativo baixo, o que ajudam a frear o ritmo de queda. Estou falando de farmácias, supermercados”, disse o economista.

“Vamos imaginar que seja 40% segurando a onda e 60% caindo forte, isso vai dar mais ou menos o cenário moderado. E isso diz que o pior passa no último trimestre e teremos um 2021 de pequena recuperação”, completou.

Pessoti avalia que, com um ambiente favorável, o PIB de 2021 pode alcançar um crescimento de até 2%. Diante da queda em 2020, o número tem impacto maior do que a simples representação dos números.

“A gente pode ter em 2021 uma taxa entre 1,5% e 2%. Já é alguma coisa. A grande incógnita será o desempenho da agropecuária em 2021. Se não for positiva, superforte, deve manter o mesmo ritmo de 2020. Choveu bastante nesse ano. Não teremos problemas hídricos. A grande questão é como estará a capitalização do produtor. Como não tem muitos elementos para projetar, a gente joga na cautela. Mas o efeito estatístico que vai acontece em 2020 vai fazer com que qualquer recuperação pareça muito grande”.

O presidente do Corecon-BA afirma que o modo como o governo tem tratado a pandemia traz confiança para a recuperação da economia baiana em 2021. Pessoti afirma que já teve acesso ao programa de retomada elaborado pela gestão estadual e que a união entre os setores e a administração pública pode fazer a diferença para o período pós-pandemia.

“O governo do estado prepara um protocolo de retomada em que conversou com todos os setores produtivos, com comércio, indústria, serviços e sindicatos. Deve ser lançado nesta semana e está muito bem feito. Tem protocolos, reativação gradual, sempre colocando a saúde na frente”, disse.

“[O plano] subordina a economia à saúde, o que é bom. Não vai fazer aberturas inconsequentes. Vai criar uma relação de setores que têm mais aglomeração, os que têm menos. Quais as regiões com maior controle no número de casos. Vai ter uma relação muito bem calibrada, bem feita. Se esse plano tiver êxito e não houver novas ondas da pandemia, 2021 pode ser encarado com otimismo”.

“Acho que com um plano bem executado, protocolos bem-feitos, relação bem estabelecida entre o governo e setores, onde não teremos uma queda de braço, com essa união entre setor público e privado, começo a ter perspectiva positiva para 2021. Para mim, 2021 é ano de recuperação lenta e gradual”, finalizou o economista. Informações do G1.