Menos de um mês após a Bahia reiniciar o processo gradual de reabertura econômica e de flexibilização nas regras restritivas, a recente escalada da covid-19 no estado colocou os planos de retomada novamente em marcha-ré. Embora não tenha definido o alcance do recuo, o que pode ocorrer até a próxima segunda-feira, o governador Rui Costa (PT) deixou claro na sexta que será inevitável endurecer o jogo mais uma vez.
A decisão de restabelecer medidas de maior rigor para frear o galope do vírus foi anunciada à imprensa por Rui no Dique do Cabrito, Subúrbio de Salvador, durante entrega da etapa final das obras de macrodrenagem e urbanização do bairro. “Do jeito que está, vamos precisar regredir no que foi feito. Já passamos de 80% de ocupação (de UTIs) em Salvador. Quatro regiões do estado estão com mais de 90%. Então, é possível que tenhamos que dar passos pra trás na flexibilização”, disse.
Em postagem no Twitter, o governador foi bem mais assertivo. “Vamos ter que adotar novas medidas restritivas contra a covid-19. Poderemos não ter leitos de UTI suficientes nas próximas semanas. Abrimos o máximo que era possível. Vou conversar com os prefeitos para alinhar medidas e anunciar hoje (sexta, 21) ou amanhã (sábado, 22)”, reforçou.
O post evidencia a principal motivação de Rui ao antecipar o retorno das regras de controle da pandemia: o risco real de colapso no sistema de saúde, puxado pelo crescimento veloz nas taxas de contágio e internações hospitalares. Na quinta-feira, a média de ocupação de UTIs para pacientes adultos no estado havia atingido 83%, mesmo índice registrado na sexta (veja outros números do balanço da covid no box ao lado).
Antes do anúncio do governador, o prefeito da capital, Bruno Reis (DEM), alertou no início da semana sobre a probabilidade de retomar regras de controle da doença, após Salvador ultrapassar de novo os 80% de ocupação nas UTIs. Assim como Rui, ele não informou quais medidas podem ser decretadas, mas bares, espaços para eventos e convenções, clubes sociais e áreas de lazer surgiram como alvos prioritários nas últimas reuniões do prefeito com integrantes do gabinete responsável pela gestão da crise sanitária.
Vilões
No mesmo compasso, Rui Costa apontou com nitidez o que considera os principais inimigos do combate ao coronavírus na Bahia. Ao cobrar cooperação das pessoas, disse ser “inadmissível” que a população “dance” com o vírus. A declaração, feita no Dique do Cabrito, é uma referência direta às aglomerações promovidas em festas de todo tipo, incluindo em bares, galpões e espaços para eventos.
“É uma tragédia, e ficamos todos exaustos. Socialmente, economicamente, psicologicamente. É preciso não brincar com o vírus. Não dançar pagode nem axé nem forró com o vírus. Se você chamá-lo para dançar em garagem, em paredões, ele vai levar você, seu pai, seu irmão. Não para dançar, mas para o caixão. Dá uma profunda indignação”, disse o governador.
Rui revelou ainda apreensão com a proximidade do período junino, embora tenha cancelado os festejos de São João no estado. O problema, destacou, está nos encontros de família em datas festivas, onde as aglomerações e os descuidos com o protocolo sanitário são frequentes.
“Vou mostrar os gráficos do crescimento da covid que está associado a alguma comemoração. Não é só evento na rua”, destacou, ao citar a curva ascendente após o Dia das Mães. Os números encabeçam a lista de argumentos que será apresentada na série de reuniões com prefeitos de todas as regiões do estado para definir, em conjunto, as medidas restritivas. A agenda de encontros deve ser concluída na próxima segunda, quando Rui pretende anunciar as regras.
Avaliação
Entre especialistas em doenças infectocontagiosas, a decisão de endurecer o jogo diante da eventual terceira onda de covid já era esperada, por causa da alta nos índices da pandemia. Contudo, a avaliação precisa sobre a eficácia das medidas só poderá ser feita depois que elas forem anunciadas. Se forem similares às anteriores, as restrições podem incluir a antecipação do toque de recolher e o fechamento de atividades não essenciais.
Para o infectologista Adriano Oliveira, só isso não resolve o quadro . “Medidas restritivas (na Bahia) têm resultado meeiros porque são implantadas e realizadas de forma meeira. A ocupação dos leitos em 70% não deveria ser parâmetro para nos deixar confortáveis. O problema é que as restrições não são tão restritivas aqui”, disse o médico, que integra a Sociedade Brasileira de Infectologia e atua na linha de frente desde o início da pandemia.
Números da doença
83% é a média de ocupação nos leitos de UTI para adultos na Bahia, segundo balanço divulgado na sexta pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesab).
4.801 novos casos de covid foram registrados em todo o estado no mesmo dia em que o governador anunciou a decisão de retomar medidas mais duras. A alta é de 0,5% em relação ao balanço de quinta
75 pessoas tiveram a morte confirmada por causa da doença na sexta. Desde o início da pandemia, a Bahia soma mais de 20 mil óbitos
Fonte: Correio*