O orçamento milionário de quase R$ 700 milhões da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) estará em novas mãos a partir do próximo ano. E as chances de ser uma mulher no comando da reitoria são altas: pela primeira vez na história do processo eleitoral da Uneb, mais de 80% das candidaturas para os cargos de reitor e vice-reitor são femininas – e 66% das candidatas à reitora. A campanha começou no dia 17 de agosto e as eleições serão nesta terça-feira (5), de forma online, pelo site, das 8h às 21h.
Os desafios para os novos gestores são muitos. Desde o início da pandemia da covid-19, a Uneb está em ensino remoto, para atender mais de 33 mil alunos de 30 departamentos, divididos em 26 campi, em 24 cidades da Bahia. Para a Coordenadora Geral da Associação dos Docentes da Uneb (ADUNEB), Ronalda Barreto, no entanto, o principal obstáculo será um melhor diálogo com o governador do estado, Rui Costa (PT). “Tem sido uma relação desgastada e, quem perde, é o povo baiano”, expõe Ronalda.
Uma pesquisa feita pela Aduneb ressaltou outra demanda da universidade: maior autonomia. “Desde 2015, a autorização de despesas, de serviços e pessoal, é realizada de forma centralizada, pela Secretaria da Administração do Governo do Estado da Bahia (Saeb). Hoje, todos os gastos passam pela autorização de pessoas que não entendem nada da vida universitária. Isso traz um prejuízo imenso do ponto de vista pedagógico e político”, critica a coordenadora-geral da Aduneb.
Ela defende mais independência aos campi, que têm contextos e realidades diferentes, além de fortalecer a presença da Uneb no interior da Bahia. Esses dois pontos foram os mais abordados nas propostas dos três candidatos. As chapas são as seguintes: Carla Liane Nascimento e Amérlia Maraux; Marcelo Ávila e Sofia Silva e Adriana Marmori e Dayse Lago..
A comunidade discente traz outras pautas. Para o estudante de direito do campus de Valença, no sul da Bahia, João Henrique Carvalho, 28, é preciso melhorar as residências estudantis no interior do estado, além de construir novos prédios. Ele, que usufruiu da residência em Gandu, conta que só concluiu a faculdade por conta desse apoio.
“Usufrui dessa política de assistência estudantil e sei como muitas vidas foram mudadas, várias pessoas puderam terminar a graduação por conta disso. Mas é preciso que elas sejam prioridade, que a Uneb dê mais apoio e estrutura de acolhimento ao estudante, com uma readequação dos espaços, porque não temos muito conforto”, pontua.
Carla Liane Nascimento e Amélia Maraux: Uneb é resistência
Com o slogan “Uneb é resistência”, a chapa de Carla e Amérlia defende uma revisão das grades curriculares dos cursos. “Queremos currículos mais inovadores, praticando a justiça curricular, trazendo elementos do cotidiano. A ideia é atualizar, buscando diversidade cultural não só para as ementas, mas para as referências bibliográficas”, acredita Carla.
Na reforma, ela buscará incluir autores e assuntos de grupos tradicionais, como os ribeirinhos, afrodescendentes, indígenas e quilombolas. “É preciso um currículo mais interdicisplinar e decolonial, além de incorporar a inclusão digital, o grande desafio do momento”, acrescenta.
Ela também defende outros dois eixos: a permanência do estudante e o fortalecimento da atividade de pesquisa. Ela ainda quer rever os critérios de distribuição das bolsas, para a quantidade ser igualitária entre os departamentos. Outra proposta é a criação de um centro de línguas, que ofereça cursos para um segundo idioma de forma gratuita aos alunos, técnicos e professores.
Carla Nascimento tem 20 anos na Uneb, é doutora em Ciências Sociais e professora de pós-graduação. Já atuou na Pró Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação e na de Planejamento (PROPLAN) e é a segunda vez que ela se candidata à reitoria. Sua colega de chapa é Amélia Maraux, pesquisadora em educação, ex-diretora de departamento do campus de Conceição de Coité e vice-reitora por dois mandatos.
Marcelo Ávila e Sofia Silva: A Universidade precisa voltar a sorrir
Marcelo Ávila é o que mais tem experiência em gestão. Ele é o atual vice-reitor da Uneb, foi reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), pró-reitor de administração duas vezes – Uneb e Uefs – e pró-reitor de gestão e desenvolvimento de pessoas na Uneb. É mestre em filosofia e história das ciências e atua como professor há 35 anos no campus de Salvador.
Segundo ele, serão três princípios básicos da gestão, se eleito: valorização e acolhimento da comunidade acadêmica e fortalecimento dos cursos de graduação e pós-graduação. “É preciso voltar a conversar com sindicatos, associação, implantar uma política de assistência estudantil e humanizar mais a universidade, valorizar os servidores. As pessoas são nosso maior patrimônio e precisamos investir nisso”, argumenta.
Ele também busca adquirir mais equipamentos para os laboratórios e alocar novos recursos de pesquisas. Pretende também ampliar as bolsas, construir mais residências estudantis no interior da Bahia e implantar um atendimento gratuito de saúde mental para servidores e alunos. Ele ainda pensa em abrir mais concursos, para ampliar o quadro de funcionários.
“A universidade precisa voltar a sorrir. Queremos dar esperança às pessoas. Acreditamos que é possível tornar a Uneb mais moderna, dinâmica e, essencialmente, mais democrática, com a participação de toda a comunidade”, conclui Ávila. A chapa do então vice-reitor é composta pela professora Sofia Silva, doutora em administração e coordenadora do curso de turismo e hotelaria.
Adriana Marmori e Dayse Lago: Força no interior
A pedagoga Adriana Marmori é candidata ao cargo de reitora da Uneb pela segunda vez. Ela é doutora em Difusão do Conhecimento e foi diretora da Uneb de Barreiras, no Oeste baiano, além de chefe de gabinete na Secretaria de Políticas para Mulheres da Bahia (SPM). Como mulher e negra, ela acredita que o diferencial é investir no interior da Bahia.
“Conheço todos os departamentos, de todas as cidades, de perto, a realidade de cada um. A gente precisa dar visibilidade às nossas instituições com uma política de comunicação forte, porque muita gente não conhece o que a universidade tem de potencial. Precisamos mostrar a Uneb pelo que ela é, multicampi, presente em todos os territórios da Bahia”, afirma.
A candidata a vice-reitora na chapa, Dayse Lago, já foi diretora da Uneb de Irecê. Dayse é pedagoga, doutorada em educação e contemporaneidade. Outras propostas da chapa são rever o estatuto da universidade, que, segundo Adriana, é muito antigo. Para isso, pretende dialogar com o governo do estado e refazer a lei de encargos e salários dos técnicos e docentes. Por fim, ela defende a inclusão de mais cursos de cultura e esporte, para humanizar e formar mais cidadãos individualizados.
Outros reitores da Uneb:
1983–1984: Edivaldo Boaventura
1984–1985: Fábio Dantas
1986–1989: Edelzuíto Soares
1990–1993: Joaquim Mendes
1994–1997: Mons. Antonio Raimundo
1998–2005: Ivete Sacramento
2006–2013: Lourisvaldo Valentim da Silva
2014: José Bites de Carvalho (Atual)
Fonte: Correio*